Certa feita, numa dessas aulas magnas da universidade, tive o prazer de ouvir um grande profissional do marketing do Estado do Paraná. Sim, é isso mesmo. Um profissional de Marketing. Ele não era jurista, não atuava no foro, não estava habituado à rotina forense. Porém, foi esse cara o responsável por me dizer a frase que carregarei comigo a vida inteira: “Se um dia você errar, mesmo que perca um milhão de reais, mas aprenda com o erro, acredite, ele saiu barato. Mas se um dia o seu erro for responsável por lhe fazer perder dez reais e você nada aprender, olhe, esse erro realmente saiu caro”.
Resguardadas as devidas proporções, não consigo deixar de concordar com ele. Quando iniciamos na advocacia criminal, somos abarcados por um intenso medo. Vidas estão sob nossa responsabilidade. Tudo bem, não somos médicos ou bombeiros, um erro nosso talvez não custe a vida de uma pessoa, mas talvez custe a liberdade, e viver com essa responsabilidade às vezes parece que nos sufoca e nos retira qualquer pingo de segurança. Mas é fato, um dia o erro chegará para nós enquanto profissionais e não sei para vocês, mas para mim sempre é doloroso. Aos que me conhecem, sabem que sou uma pessoa até muito tolerante ao erro (o que, obviamente, não é uma virtude). Erro muito enquanto ser humano, muitas vezes insisto no erro por teimosia (o que também não é virtuoso). Mas tudo bem, são atos humanos, erros que só dizem respeito a mim. Todavia, os que me conhecem também podem afirmar, sou intolerante aos meus erros profissionais e me dói muito conviver com eles. Justamente porque pessoas sofrerão de maneira direta os efeitos do erro enquanto revestido de minha condição profissional. Mas o erro chega para todo mundo. Não tem jeito. Durante nossos primeiros passos na advocacia criminal, assim como quando éramos crianças aprendendo a andar, as quedas serão habituais. Teremos dias em que um simples lapso poderá culminar num erro. E por mais simples que essa falha possa parecer, acreditem, nós temos que aprender com elas. Pois as pequenas falhas são sinais de alerta para que não sejamos causadores de catástrofes. O risco sempre vai existir, mas que sejam, então, os mínimos possíveis. O erro é condição de nossa humanidade e precisamos ter a humildade para aceitá-los. A experiência, a sabedoria, não nasce conosco, mas é fruto de tentativas e frustrações. O que realmente importa é que sejamos sensíveis o suficiente para compreender que efetivamente cometemos um deslize. Cora Coralina uma vez asseverou: “O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida”. Na advocacia criminal a máxima é a mesma. A sabedoria profissional virá da vivência, dos erros e acertos. O erro, a propósito, talvez seja o maior fortalecedor do bom profissional. Como dizem no futebol, a derrota tende a nos ensinar muito mais do que a vitória. Mas, claro, somente se tivermos a sensibilidade de enxergá-los e apreende-los como um ensinamento, como um ponto de inspiração para não mais repetir a falha. Eu realmente tenho medo de errar, mas isso não pode me impedir de tentar, ou arriscar. Acredito que muitos dos leitores aqui também sentem isso. Não sintam-se presos pelo erro, ele está aí para nos ensinar algo, está aí para nos dizer o que precisa ser dito. Com certeza é muito mais sadio quando aprendemos com o erro dos demais, assim evitamos feridas em nós mesmos. Mas não tem jeito. Uma hora seremos nós os causadores do erro, inclusive daquele que ensinará outra pessoa. Dentro da advocacia criminal, notadamente aquela em início de militância, os erros serão uma constante. Na grande maioria das vezes eles não terão o condão de desestabilizar um processo ou uma investigação inteira, sorte a nossa. Mas o importante é que sejamos humildes. Nunca estaremos preparados, nunca seremos bons o suficiente. Seja com dois ou sessenta anos de atividade profissional. Por isso mesmo, faz-se crucial que levantemos a cada soco que tomamos e, com isso, passemos a adquirir a habilidade de se esquivar dos golpes assemelhados. Provavelmente, quando iniciar na advocacia criminal, você não irá vencer seu primeiro júri, não irá fazer a mais bela das audiências, esquecerá de fazer perguntas essenciais ao seu cliente, sofrerá com a “malandragem” de certas autoridades públicas, como delegados e promotores, e talvez sofrerá com a intolerância de muitos colegas com relação à sua inexperiência. Mas a essência do bom profissional nasce disso. Tudo isso significa que quero incentivar alguém a errar? Por óbvio que não. Com esse texto, na realidade, quero dizer a todos vocês, que errar fará parte da atividade, mas não podemos desanimar, como também não podemos deixar de lançar mão de certas medidas com o simples receio de sermos atingidos pela sombra da falha. O que temos a fazer é justamente reavaliar o que foi feito, compreender a falha, buscar arrimo naqueles que já militam nas agruras da profissão há anos. O segredo da profissão está em se reconstruir constantemente. Eu também fico magoado quando erro. Demoro a me perdoar. Carrego a dor por bastante tempo, mesmo que tudo tenha “conserto”. Mas não me permito desanimar. “Reconhece a queda e não desanima... levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, esse é o lema do grande profissional, e, desde pouco tempo, passou a ser o meu também. Douglas Rodrigues da Silva Especialista em Direito Penal e Processo Penal Advogado Criminal Comments are closed.
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