A atuação feminina contra a ditadura militar: o “Movimento Feminino Pela Anistia” (MFPA): 1975-19793/16/2018
Meu Brasil!...
Que sonha com a volta Do irmão do Henfil. Com tanta gente que partiu Num rabo de foguete Chora! A nossa Pátria Mãe gentil Choram Marias E Clarisses No solo do Brasil...[1] A música “O Bêbado e a equilibrista” escrita por João Bosco e Aldir Blanc e interpretada por Elis Regina foi lançada em 1979 e tornou-se uma espécie de “hino” da luta pela anistia, afinal, aquele foi o ano em que foi sancionada a Lei número 6.683, datada de 28 de agosto e que concedia a anistia política a: ...todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares[2] No entanto, a anistia não foi produto somente da sanção de um projeto de lei: ela nasceu da luta e da resistência contra a ditadura militar no Brasil. Neste caso específico, merece especial atenção a luta feminina pela anistia. Trata-se do movimento intitulado MFPA (Movimento Feminino Pela Anistia) criado em 1975, o ano internacional da mulher instituído pela ONU. Inicialmente restrito a reuniões em ambientes fechados – em decorrência da repressão política que ainda vigorava – a partir de 1977 o movimento se expandiu, e em vários Estados Brasileiros surgiram entidades regionais que comungavam dos mesmos ideais do MFPA. O movimento era composto por mulheres que tinham sido separadas à força dos seus pais, filhos, esposos, namorados, irmãos, noivos... Vítimas do exílio, da prisão ou de morte sob tortura. A mobilização, que não se afirmava parte de nenhum partido ou tendência política específica, foi conquistando a admiração, a simpatia e o apoio de diferentes setores da sociedade, que se sensibilizaram com a causa defendida pelo MFPA. As mulheres ligadas ao MFPA reivindicavam junto ao governo o perdão para os seus entes queridos, dos quais se viram forçosamente separadas. Mas essa não era a única reinvindicação do movimento, que se tornou um canal para o debate sobre a discriminação e o preconceito de que eram vítimas as mulheres e um veículo de promoção do diálogo sobre os direitos humanos. O lema das mulheres do MFPA era: “ A luta pela anistia ampla, geral e irrestrita” e dentre as principais ações por elas promovidas, podemos citar: · A divulgação de listas contendo os nomes do presos políticos que haviam sido vítimas de torturas. · A exposição de documentos revelando as condições carcerárias a que eram submetidos os presos políticos Apesar das ameaças, prisões e retaliações de que passou a ser alvo, o movimento não recrudesceu, pelo contrário: transformou-se no núcleo a partir do qual se desenvolveram comitês pela anistia política em todo o Brasil. Esses comitês vincularam a luta pela Anistia a um contexto mais geral, de luta pelos direitos humanos, com destaque para o direito inalienável da liberdade. É sobre esse movimento, suas origens, estruturação e importância no contexto de resistência feminina à ditadura militar no Brasil bem como da luta pela anistia que trata o presente texto. PARTICIPAÇÃO E RESISTÊNCIA FEMININA NA DITADURA MILITAR A reconstrução da memória coletiva tem uma função primordial na evolução das relações humanas e é fundamental para a vida social. A memória constitui a base sobre a qual a sociedade afirma ou redefine seus valores, e esse resgate possibilita elucidar o que foi irracional e incoerente. O “controle” sobre o passado garante não apenas o controle sobre o futuro, mas significa sobre tudo, o controle sobre o presente. “A memória social brasileira ainda não recuperou o conteúdo de uma etapa importante da história recente do País. A versão oficial sobre aquele período só agora começa a assimilar a presença de outros participantes, principalmente a participação das mulheres, cuja contribuição é inquestionável”.[3] A Ditadura foi instaurada no Brasil por meio do golpe militar em 1964 e perdurou até 1985. Nesse espaço de tempo as mulheres assumiram um papel inédito, pois um número significativo participou da luta na derrubada do regime. Embora esse número fosse inferior ao dos homens, a militância feminina foi um momento de libertação da mulher. O Golpe Civil Militar inaugura uma fase de silêncio forçado, de cerceamento de liberdades e esse contexto, fazia-se necessário para uma parcela da sociedade a ressignificação de valores e relações sociais, no caso das mulheres, participar desses movimentos era uma forma de emancipação às relações de poder ao qual estavam submetidas. [4] Para Mirim Goldenberg, “falar de mulheres militantes implica falar de mulheres exiladas, perseguidas, presas, torturadas, assassinadas. Mulheres que tiveram suas vidas profundamente afetadas por acompanharem seus companheiros, maridos, filhos e pais”.[5] Muitas delas abandonaram os estudos ou perderam seus trabalhos, que tiveram de se afastar de seus amigos e familial. Mulheres que engravidaram e pariram na clandestinidade, na mais absoluta precariedade, e que depois foram obrigadas a se separar de seus filhos. Mulheres que tiveram suas casas invadidas e revistadas, muitas vezes destruídas. Mulheres que assistiram seus filhos e filhas serem estuprados, torturados com choques elétricos, queimados com cigarros, pendurados no pau-de-arara. Mulheres que, na maioria dos casos, integraram-se na politica em função de suas relações afetivas. Mulheres que teimaram em lutar pela liberdade em tempos de ditadura militar. Militantes em um mundo quase que exclusivamente masculino, estas mulheres enfrentaram todos os tipos de discriminações e violências, dentro e fora de seus partidos e organizações.[6] Nos dizeres de Ana Maria Colling, “a história da repressão durante a ditadura militar e assim como a oposição a ela é uma história masculina, assim como toda a história política, basta que olhemos a literatura existente sobre o período”.[7] Apesar de sabermos que tantas mulheres também lutaram pela redemocratização do país, as relações de gênero estavam excluídas dos debates, as diversidades eram entendidas como divisionistas da luta principal. Esse discurso anulava as diferenças e construía sujeitos políticos únicos, desconsiderando a presença feminina e instituindo a invisibilidade da mulher como sujeito político.[8] “A participação feminina nas organizações de militância política pode ser tomada como um indicador das rupturas iniciais que estavam ocorrendo nos papéis tradicionais de gênero”[9], mas essa ruptura não se dava em função da participação minoritária das mulheres, mas principalmente pela indicação de uma participação diferenciada, contudo, elas raramente ocuparam lugares de comandos nas organizações.[10] Nesse período, ser uma mulher na política era uma antítese da feminilidade. Durante a ditadura a norma era a não participação das mulheres na política, exceto para reafirmar os seus lugares de mães e esposas adstritas ao espaço privado e que vivem em função do espaço masculino, como ocorreu com os movimentos femininos que apoiaram o golpe militar de 1964, a exemplo da Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE), União Cívica Feminina (UCF), entre outros. A presença feminina refletia então um processo de libertação da mulher na medida em que tais grupos proporcionaram uma contestação à ordem estabelecida, contudo, em nenhum momento ficou evidente uma discussão de caráter “feminista”.[11] Para a repressão, a quebra dos papéis destinados à mulher e a consequente busca por igualdade trouxe o conceito de “mulher subversiva”, que era dividida em duas categorias: a de prostituta, objeto de desejo dos homens, e a de comunista, desviante política. A militante política dos partidos de oposição cometia dois pecados aos olhos da repressão: fazer oposição contra a política golpista e desconsiderar o lugar destinado à mulher, rompendo os padrões estabelecidos para elas.[12] Segundo o entendimento dos militares, essas mulheres não eram capazes de tomar decisões políticas, e só estavam na militância porque os homens as conduziram e subverteram, elas não tenham vontade própria e estavam na militância não por motivos políticos, mas à procura de homens. A militante é descrita como um ser desviante e não político, estas apareciam nos em documentos oficiais é porque eram filhas, irmãs, esposas ou amantes dos homens procurados. [13] Os jornais funcionavam como via de transmissão e difusão desta visão no intuito de legitimá-la, utilizavam as mesmas categorias imparciais dos órgãos repressivos contemplando um juízo de valor arraigado na sociedade. O preconceito que pairava na sociedade, transferia-se para as folhas dos arquivos da repressão e se afirma nas páginas jornalísticas. As militantes constantemente tinham sua sexualidade posta em questão, pois
As mulheres adentravam os movimentos de combate à ditadura por sua convicção política, muito embora a esquerda estivesse aberta à integração feminina não se pode dizer que havia igualdade entre homens e mulheres. Na teoria todos eram iguais dentro das organizações, mas a vida cotidiana mostrava que a sociedade guardava os rígidos códigos de conduta entre os sexos. Além disso, as decisões e estratégias eram quase exclusivamente masculinas. As mulheres enfrentavam, portanto, além da repressão de seu discurso político também enfrentado pelos companheiros de militância, a repressão de seu discurso, em função da sua posição na hierarquia de gênero.[15] As próprias militantes assumem a dominação masculina, tentando camuflar a sua sexualidade numa categoria sem sexo, a militante política, para assim se constituírem como sujeitos políticos. Como a política era espaço fundamentalmente masculino, “impunha-se às mulheres a negação de sua sexualidade como condição para a conquista de um lugar de igualdade ao lado dos homens”, diluindo dessa forma, as relações de gênero na luta política mais geral.[16] É impossível deixar de falar das violências físicas e sexuais que estas mulheres sofreram por parte dos órgãos de repressão. Uma das técnicas mais utilizadas pela repressão era a nudez e a vendagem dos olhos. Para a mulher a nudez é uma questão muito séria, pois ela se sente desestruturada, desprotegida, e tenta se cobrir, já o homem é criado culturalmente para não ter vergonha do seu corpo.[17] Durante a Ditadura, as mulheres sofreram as mais variadas formas de tortura e não contavam com o apoio da sociedade civil por serem consideradas subversivas. A militância representava uma mudança radical no modo de vida dessas mulheres e a clandestinidade era precedida por uma atividade ilegal, seja no movimento estudantil, na militância ou em outras esferas de atuação, com o fechamento político a clandestinidade tornava-se quase que obrigatória para essas mulheres e o exílio em muitos casos era uma alternativa de sobrevivência.[18] No regime militar, a tortura transformou-se em um fato cotidiano da vida nacional, a prática foi institucionalizada em nosso país, e passou a ser um “método científico” onde ministravam-se aulas a respeito e os interrogados passaram a ser usados como cobaias, instrumentos de demonstrações práticas desse sistema.[19] Apesar de tanto os homens quanto as mulheres terem sido submetidos à tortura, as mulheres foram atingidas de forma particular, uma vez que se encontravam sempre nas mãos de agentes da repressão do sexo masculino, além do que, a questão de ser mulher torna a tortura um processo muito particular, por conta dos padrões de conduta, que sob o aspecto sexual colocava a mulher como objeto de prazer do homem, dessa forma, a tortura tinha um cunho eminentemente sexual, pois em especial, as militantes eram vistas pelos agentes da repressão apenas como “mulher-objeto”, com o único fim de “servir sexualmente”. Cabia ainda às “mulheres uma cota suplementar de sofrimento que resulta da violência sexual (estupros, às vezes seguidos de gravidez) ou dos rituais de humilhação a que foram submetidas em função de seu gênero”. [20] A intenção do uso do corpo da vítima era instrumental, e no caso das mulheres, o corpo oferecia maiores possibilidades pois, além do caráter sexual no processo de tortura, os militares exploravam a maternidade. A gravidez não era impedimento para a tortura, as crianças e os companheiros foram usados como instrumentos de pressão, justificando-se pela necessidade de urgência nas informações sobre os transgressores do regime.[21] O fato de ser mulher acirrava nos torturadores uma raiva maior, porque as militantes além de estarem insurgindo-se contra o regime militar, estavam rompendo o padrão de gênero vigente, da mulher de esposa e mãe, os torturadores fizeram da sexualidade feminina objeto especial de suas taras, utilizaram choques elétricos, agressões físicas, estupros contra as militantes que foram presas.[22] Quando não eram apanhadas pelos militares ou quando sobreviviam ao cárcere e às torturas, a dificuldade continuava, pois a volta à sociedade era um período de extremo embaraço, pois a condição que se encontravam anteriormente causava um grande impacto na identidade e na vida delas, trazendo a necessidade de uma constante adaptação individual e social a esses novos contextos. O processo de reinserção é uma longa travessia após os anos de clandestinidade, tortura, exílio e prisão, e nesse momento se observa as consequências do engajamento político. A volta das militantes à vida comum envolvia um cuidado especial, de modo que seu passado revolucionário era ocultado para facilitar a entrada no mercado de trabalho e na vida acadêmica. Esse passado político distinguia e dificultava a convivência em sociedade. Por conta dessa dificuldade, algumas mulheres preferiram iniciar uma nova fase em outros países. [23] MULHER E ANISTIA A ditadura tinha a “livre licença” para prender, torturar, matar e ocultar cadáveres, contando com a estrutura do Estado e com o apoio de setores da sociedade civil, essas práticas interferiam direta e indiretamente na vida de homens e mulheres principalmente desarticulando suas famílias.[24] “Ao mesmo tempo em que esses fatos ocorriam, outras mulheres da sociedade civil e de organizações sociais se organizavam em movimentos de protesto e de indignação, nas ruas e nas praças, dentro das universidades e das escolas, em igrejas, nos sindicatos, nas fábricas, na cidade e no campo”. Algumas manifestações agigantaram em ações e reuniram os demais setores em movimento de crítica e de campanha pelo fim da ditadura.[25] Os últimos dez anos de regime militar (1975-1985) foram um longo período de negociações que desembocou nos anos da abertura política. “Nesse período a primeira reivindicação a ser pontuada diz respeito à necessidade de se promulgar a lei de anistia”. O MFPA foi a primeira entidade a levantar a bandeira da anistia e, além de contar com a mulher como articuladora, Terezinha Zerbini “que solidariamente, muitas vezes, abriu sua casa para abrigar de forma clandestina políticos perseguidos, mesmo depois de ter sido presa pelos militares decidiu conclamar a nação para uma mobilização em favor da anistia ampla e geral”. [26] Anistia no Brasil foi um movimento memorável que surgiu em meados da década de 1970 e organizou-se no âmbito dos Comitês Brasileiros pela Anistia, com núcleos em diversos estados do país, no qual participaram, em sua maioria, familiares e amigos dos envolvidos nos movimentos revolucionários e também pelos presos ou ex-presos políticos.[27] A luta pela anistia, “inicialmente organizada por mulheres com o Movimento Feminino pela Anistia e, depois, pelos Comitês Brasileiros pela Anistia (CBAs), foi fruto da indignação de vários setores da sociedade brasileira e do desejo de um basta à ditadura. O programa mínimo desses comitês exigia: libertação imediata de todos os presos políticos; volta de todos os exilados, banidos e cassados; reintegração política, social e profissional dos funcionários públicos ou privados demitidos por motivos políticos; fim radical e absoluto da tortura; revogação da Lei de Segurança Nacional, desmantelamento do aparato repressivo; esclarecimento das mortes e dos desaparecimentos por motivação política; julgamento dos responsáveis”.[28] Muitas mulheres se uniram à campanha como mães, irmãs, esposas e amigas de atingidos e também como militantes até então clandestinas,[29] “a organização deste movimento foi um momento importante na definição da luta pela emancipação das mulheres e na reivindicação pelo estabelecimento de seus direitos”.[30] A Organização das Nações Unidas escolheu 1975 como o ano internacional da mulher, tinha como princípios a igualdade, o desenvolvimento e a paz. Com isso, as mulheres do Movimento Feminino Pela Anistia (MFPA) escolheram a paz como tema principal para ligá-la à anistia, pois, na concepção delas, anistia significava paz em um momento em que o país estava dividido, as famílias estavam separadas devido às ações violentas do Regime Militar.[31] Movimento Feminino Pela Anistia, surgiu em 1975, no Ano Internacional da Mulher, na cidade de São Paulo e acabou se estendendo pelas principais capitais e foi iniciativa Theresinha Godoy Zerbini, uma advogada paulista, mulher do General Euryale de Jesus Zerbini que foi cassado pelo Exército durante a Ditadura Militar e decidiu entrar na luta pela anistia ao ver seu marido sendo preso e punido pelo próprio Exército Brasileiro lançou e divulgou a ideia da anistia em todo continente americano. Theresinha foi participar do Congresso Internacional das mulheres na cidade do México, com o intuito de lançar a ideia de criação do Movimento pela Anistia (MFPA) a nível mundial, pois, na cidade de São Paulo, o movimento já se encontrava em fase de organização e de formação. É inegável a participação das em todo o processo de anistia política, contudo, a grande inovação é que a primeira voz que desencadeia o início dessa mobilização é a de uma mulher, Foi ela então, a primeira a dar a base do primeiro movimento nacional pela anistia, denominado Movimento Feminino pela Anistia, que foi o primeiro movimento legalmente organizado contra a ditadura militar.[32] No Congresso do Ano Internacional da Mulher realizado no México de 19 a 27 de julho de 1975, foi apresentado em uma das plenárias, um manifesto contendo 16 mil assinaturas denominado Manifesto da Mulher Brasileira chamando a organização política dos diferentes setores da sociedade civil, principalmente as mulheres, para que engajassem na luta pela anistia política.[33] No seu discurso, Theresinha Zerbini, fala em fortificar o papel das mulheres no trabalho pela paz mundial e em conceder anistia a todos os presos políticos do mundo homens e mulheres. Para ela, a anistia era um tema acima de todos os partidos e interesses pois iria garantir a liberdade, desenvolvimento, pacificação da família nacional.[34] A anistia era uma necessidade imperiosa, por isso a líder nacional se preocupava com a boa imagem do movimento, falando sempre em paz, união das famílias para abraçar a luta, um movimento encabeçado por mulheres, sem violência, além disso procurava orientar as militantes a usar qualquer espaço para a imagem da questão da anistia, referindo-se ao esclarecimento e, principalmente, noticiar os acontecimentos em todos os níveis.[35] Zerbini frisava para a sociedade a importância do Movimento Pela Anistia, “no qual as mulheres eram as responsáveis por gerar vidas, administrar a família e criar os filhos, sendo, em muitos casos, responsáveis pelo sustento das famílias, responsáveis pela sociedade, das transformações do amanhã e, assim, sendo agentes da história, pois seus maridos e companheiros estavam presos”.[36] “Movimento Feminino pela Anistia no Paraná, núcleo de Curitiba, esteve subordinado ao Movimento Feminino pela Anistia nacional, iniciou seus trabalhos em julho do ano de 1977, sob a coordenação da professora e psicóloga Neide de Azevedo Lima”.[37] No momento de sua criação foi lançou seu primeiro boletim, conclamando a participação da mulher ao Movimento. “Pode se até supor, que a “mulher brasileira” citada no documento era aquela identificada pelo imaginário social vigente, aquela que precisa contribuir neste momento de outra forma, que não fosse pelo trabalho, mas sim pela participação política. Deixar o espaço doméstico, criar uma consciência critica do contexto histórico e ir à luta. É interessante perceber, que o boletim elaborado em 1977, parece entender que antes disso não haveria participação de mulheres na luta contra a ditadura, ou seja, a mulher que rompeu com a identificação construída pela da sociedade patriarcal não estaria contemplada neste chamado”.[38] Em consonância com o MFPA nacional, a coordenação do núcleo paranaense do organizou em 1977 o I Encontro Nacional do Movimento Feminino pela Anistia em São Paulo, e o objetivo do evento era avaliar os três primeiros anos de experiência do, foi decidido durante o evento que as mulheres passariam a se mobilizar para que o governo brasileiro concedesse nacionalidade aos filhos de exilados que nasceram em exílio, essas metas ficaram visíveis no documento que foi redigido durante o evento e assinado por Terezinha Zerbine. O Movimento no Paraná estava preocupado com a situação dos presos e desaparecidos políticos, por isso se reuniram com os familiares desses para planejar como buscariam informações e a localização de seus familiares.[39] A Lei de Anistia, contudo, foi resultado da mobilização dos movimentos pela anistia e demais atores sociais que lutavam por sua adoção e não uma concessão dos militares. A aprovação da Lei 6.683, no dia 28 de agosto de 1979, que oficializou a anistia para os “crimes” praticados durante a ditadura, não significou o fim da luta pela redemocratização, pois apesar de representar um avanço político efetivo, beneficiando cerca de mil brasileiros, entre presos políticos, exilados e pessoas atingidas por Atos Institucionais, pela forma como ela foi legalizada se tornou restrita e parcial pois não atingia os condenados a atentados e sequestros, e não concedia liberdade imediata aos presos condenados pela Lei de Segurança Nacional e nem que ex-integrantes das Forças Armadas, condenados por crimes políticos, reassumissem seus postos e funções. Além disso, a lei de Anistia criava um dispositivo que beneficiava os militares, eliminando as chances de investigação e punição dos militares envolvidos em crimes de tortura do período.[40] Hoje, essas mulheres que foram atingidas mais duramente pela ditadura civil-militar estão reintegradas à cena social, política e cultural do país, muitas das que protagonizaram movimentos sociais de libertação ou estiveram clandestinas e exiladas continuam sustentando novos projetos para o país. Além disso há familiares que seguem buscando seus desaparecidos, “aliados às mulheres e aos homens que continuam acreditando que o Brasil pode avançar na direção de um resgate pleno, lúcido e inquestionável de nossa história, para que, enfim, os brasileiros possam se olhar frente a frente, sabendo quem são e quais foram os lugares que ocuparam na construção de nossa história recente”.[41] LARISSA TOMAZONI Mestranda em Direito pelo Uninter Pós graduanda em Gênero e Sexualidade Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil – Unibrasil Pesquisadora do Núcleo de Estudos Filosóficos (NEFIL/UFPR) e do Grupo de estudos Jurisdição Constitucional Comparada: método, modelos e diálogos (Uninter) Advogada ANDREA MARIA CARNEIRO LOBO Doutora pelo Programa de Pós Gradução em História pela UFPR Mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná (2005) Graduação em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Paraná Especialização em Imagens, Linguagens e Ensino de História pela UFPR (2000) Mministra a disciplina de História do Direito no Curso de Direito do Centro Universitário Autônomo do Brasil (Unibrasil) Coordenadora de Grupo de Pesquisa sobre História, Direito e Loucura REFERÊNCIAS COLLING, Ana Maria. 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Concedeu anistia política e deu outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6683.htm. Acesso em: 05 mar. 2018. [3] NASCIMENTO, Ingrid Faria Gianordoli ; TRINDADE, Zeidi Araújo; AMÂNCIO, Lígia. Mulheres brasileiras e militância política durante a ditadura militar brasileira. Disponível em: < http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR460eb23be09d1_1.pdf> Acesso em: 05 mar. 2018. [4] GOLDENBERG, Mirian. Mulheres e militantes. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/12152 > Acesso em: 05 mar. 2018. [5] Idem. [6] GOLDENBERG, Mirian. Op. Cit. [7] COLLING, Ana Maria. As mulheres e a ditadura militar no Brasil. Disponível em:<http://ich.ufpel.edu.br/ndh/downloads/historia_em_revista_10_ana_colling.pdf> Acesso em: 05 mar. 2018. [8] Idem. [9] NASCIMENTO; TRINDADE; AMÂNCIO. Op. Cit. [10] Idem. [11] TOMAZONI, Larissa. Op. Cit. [12] TOMAZONI, Larissa. Op. Cit. [13] Idem. [14] Idem. [15] Idem. [16] COLLING, Ana Maria. Op. Cit. [17] GOLDENBERG, Mirian. Op. Cit. [18] TOMAZONI, Larissa. Op. Cit. [19] Idem. [20] Idem. [21] Idem. [22] GOLDENBERG, Mirian. Op. Cit. [23] TOMAZONI, Larissa. Op. Cit. [24] SOUZA, André Pinheiro de. Do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA-CE) ao Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA-CE): as motivações e os caminhos percorridos pela anistia política no Ceará (1975 a 1980). Fortaleza, 2012. 165 f. Dissertação (Mestrado em História) - Centro de Humanidades, da Universidade Estadual do Ceará.p.30. [25] MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor. (orgs). Direito à memória e à verdade: Luta, substantivo feminino. São Paulo: Caros Amigos, 2010.p.31. [26] VARGAS, Mariluci Cardoso de. O Movimento Feminino pela Anistia como partida para a democratização brasileira. Disponível em: < http://eeh2008.anpuhrs.org.br/resources/content/anais/1212369464_ARQUIVO_trabalhocompletoanpuh.pdf > Acesso em: 05 mar. 2018. [27] CONRADI, Carla Cristina Nacke. A participação feminina na luta pela Anistia no Paraná. Disponível em: <http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1278287279_ARQUIVO_APARTICIPACAOFEMININANALUTAPELAANISTIANOPARANA.pdf > Acesso em: 05 mar. 2018. [28] MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor. Op.cit. [29] Idem. [30] CONRADI, Carla Cristina Nacke. Op.cit. [31] Souza, André Pinheiro de. Op.cit., p.28. [32] CONRADI, Carla Cristina Nacke. Op.cit. [33] Idem. [34] Souza, André Pinheiro de. Op. Cit., p.29. [35] Ibidem, p.30. [36] Idem. [37] CONRADI, Carla Cristina Nacke. Op. Cit. [38] Idem. [39] Idem. [40] Idem. [41] MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor. Op.cit. Comments are closed.
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