A "Maldade" da Multidão e o Estupro Coletivo

​É muito difícil compreender o fenômeno criminoso, mas é ainda mais difícil, talvez impossível, entender porque 30 homens se reuniriam para estuprar uma adolescente indefesa?

​Por André Pontarolli

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É muito difícil compreender o fenômeno criminoso, mas é ainda mais difícil, talvez impossível, entender porque 30 homens se reuniriam para estuprar uma adolescente indefesa?

Muitos crimes praticados por grupos ou multidões se revelam incompreensíveis! A impressão que fica é a de que todos os valores agregados à personalidade do indivíduo se perdem no agir desequilibrado coletivo. Parece que o sentimento de culpa individual acaba sobreposto por uma pseudo-autorização depreendida das condutas dos demais.

Não se está fazendo aqui qualquer análise sobre a ocorrência do crime (ou não), o que deverá ficar a cargo das autoridades e respeitar o devido processo legal. O que está sendo colocado em pauta é a reflexão hipotética sobre o crime potencialmente praticado. 

O estudo das condutas criminosas coletivas sempre instigou a reflexão de sociólogos, criminólogos e psicólogos.

O pensador Sêneca já dizia que "a companhia da multidão é nociva".

Interessante colacionar breves reflexões sobre o tema:

• "A multidão é um caldo de cultura onde o germe do mal prolifera e se desenvolve com rapidez espantosa; onde duzentas, quinhentas, mil pessoas podem pensar e agir como uma só pessoa; onde uma simples descarga serve para eletrizar a turba e fazê-la mais ou menos dócil e obediente ao capricho de uma voz que a orienta e a dirige; uma voz que pode elevá-la aos pícaros do heroísmo, bem como precipitá-la no abismo do crime". (Lima, Luiz Fernandes. O crime das multidões. Disponível na rede (Site de Revistas da USP: http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/66299/68909)

• A multidão é um terreno em que o micróbio do mal se desenvolve facilmente, ao passo que o micróbio do bem morre quase sempre à míngua de encontrar condições de vida. (Sighele. A multidão criminosa. p. 58)

Não são poucos os casos em que verdadeiras atrocidades foram cometidas por várias pessoas reunidas, atos de violência impensáveis. Situações em que a ira coletiva de sobrepôs à sobriedade individual!

Realmente é muito difícil entender o que acontece com a multidão criminosa. A advertência que fica é que as pessoas são mais primitivas quando estão em grupo e, num instante irrefletido, podem praticar monstruosidades!

André Pontarolli
Advogado Criminal

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