Já pararam para pensar sobre a barbárie? O que seria a barbárie? Existe mais de uma conceituação para a palavra? Qual a origem do termo? Como e quando é melhor empregado? Há diversas formas de aplicação da nomenclatura?
Jean-François Mattei, em seu livro “A Barbárie Interior: ensaio sobre o i-mundo moderno” apresenta a barbárie exposta em todas as suas nuances, desde os tempos remotos até os tempos modernos e pós-modernos. A intenção que o autor busca expor na obra é justamente a de ir atrás de respostas para tais questionamentos, cujo objetivo é alcançado com sucesso. Em suas palavras, "nós nos acostumamos com efeito à barbárie, nossa época é um testemunho claro disso. Habituamo-nos sobretudo deliberadamente a humilhar a humanidade como humanidade reduzindo-a ao parcelamento de seu corpo à decomposição da alma". É daí que, feita tal constatação, a saber, que a barbárie que nos assola sempre esteve presente desde quando o homem se constituiu em sociedade, o autor parte em busca das causas e dos efeitos dessa tal barbárie. O livro é uma digressão filosófica, mas com um direcionamento concreto, certo, objetivo. A digressão se dá no sentido histórico, quando o autor busca as origens da barbárie no homem e na sociedade. Assim, o livro inicia buscando as origens etimológicas e definidoras da barbárie, começando pela Grécia, passando pela Europa e até chegar aos dias atuais. Não se foge da barbárie. Nunca se fugiu, por mais que tentado. A barbárie está inserida não apenas no sujeito, mas também na educação, na cultura e na política. Para cada um desses níveis o autor articula especificamente em capítulos próprios. Suas formas de manifestação ganham relevo nas exposições críticas presentes na obra. O "i-mundo" conceituado pelo autor (e presente no subtítulo da obra) refere-se à forma de desenvolvimento do ser humano sem levar em conta bases concretas de senso de comunidade, ou ainda de humanidade, de modo que o resultado de tal desenvolvimento sem concretude, sem um direcionamento adequado, sem uma base forte, acarreta em uma sociedade fragilizada, na qual a barbárie é ao mesmo tempo o mote e o estopim que resulta na transgressão da própria humanidade. Conforme o autor, "i-mundo é o que resta do mundo quando o longínquo se retirou, abandonando o sujeito a esse lamaçal bárbaro, que adquire hoje o nome de massa, onde o pensamento se abisma". É uma leitura interessante, com um tema que recebe profundas reflexões. O aparentemente simples se demonstra como não assim sendo. A ideia de barbárie é tanto exposta como combatida. A conclusão, porém, se dá no sentido de que tal sempre se fez presente. Atualmente, pode-se dizer, num nível pior, pois mesmo o homem contando com diversos aparatos (exemplos históricos, paradigmas filosóficos, informação ao alcance de todos...), ainda assim deixa se levar constantemente pela barbárie, de modo que a humanidade acaba saindo perdendo. Eis uma boa referência para se buscar uma reflexão para a compreensão acerca da nossa barbárie de cada dia, cujos efeitos também são vistos no e pelo direito. Paulo Silas Taporosky Filho Advogado Especialista em Ciências Penais Especialista em Direito Processual Penal Especialista em Filosofia Mestrando em Direito pela UNINTER Membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura Membro da Comissão de Prerrogativas da OAB/PR Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |