José Saramago, o autor português que presenteou o mundo com magníficas obras, dentre elas, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Caim” e “A Viagem do Elefante”. Sua vasta e impecável produção literária lhe rendeu o devido respeito e reconhecimento mundial, o que culminou inclusive com o Prêmio Nobel da Literatura. Em 2010, Saramago deixou o mundo, tornando-nos órfãos de sua escrita com inúmeras linhas e longos parágrafos. O seu legado permanece, cujas mensagens que transmitiu podem ser conferidas em seus livros, inclusive com grandes lições que podem ser refletidas no direito. Quando veio a falecer, Saramago estava trabalhando em um romance, cuja obra incompleta foi lançada postumamente. Falo do respeitável “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas”. “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas” é um livro inacabado de José Saramago, cujo desfecho, como dito, não foi possível em decorrência do falecimento do autor. Entretanto, mesmo com as poucas páginas que chegaram a ser escritas, a obra cativa tal qual qualquer outra do ilustre escritor. Assim, mesmo com a brusca interrupção da história, é um livro que vale a pena ser lido. A última mensagem (parte dela), que Saramago nos deixou... O livro conta a história de Artur Paz Semedo, um homem que trabalha na contabilidade de uma fábrica de armas - a “Produções Belona S.A.”. O protagonista é um homem simples, muito dedicado ao trabalho, que deixa pistas de não ter aceitado muito bem o término de seu casamento, em que pese se demonstre resoluto com a separação. Enfim, é um funcionário disciplinado e ordeiro. Artur Semedo desperta sua curiosidade para com o passado da empresa, adotando um espírito investigador para acalentar o ânimo emocional. O que motiva e, de certa maneira, intenta a curiosidade de Artur Semedo é a sua ex-esposa, Felícia, uma pacifista que não suportou conviver com o marido em decorrência da profissão por este exercida. Após uma conversa casual pelo telefone, Felícia questiona Artur Semedo acerca do passado da “Produções Belona S.A.” e o seu peculiar envolvimento e crescimento na época da Guerra Civil Espanhola. Inculcado pelas provocações de Felícia, Artur Semedo passa a querer investigar a fundo o faturamento (e o que mais conseguir descobrir além) da fábrica nos anos 30. Artur Semedo enfrenta alguns obstáculos para ter acesso aos antigos arquivos da fábrica, cuja jornada arqueológica a que se empreita contará com alguns obstáculos que deverão ser superados. Cumprimento de burocracias exacerbadas, má vontade de superiores hierárquicos e desconfiança de alguns outros estão dentre os problemas que Artur Semedo passa a enfrentar em seu garimpo nos arquivos. É em tal ponto o livro se encerra. Após o primeiro indício de uma aparente interessante descoberta, tem-se a última linha escrita sem que haja um fim definido. O término é brusco. Doído – principalmente quando se dá conta do motivo do encerrar da obra. E assim se encerra, mas sem encerrar, a última história de Saramago. A mensagem, pelo que consta, além daquelas que são captadas no decorrer da leitura, que buscou Saramago transmitir em sua inacabada obra, adveio de uma indagação que lhe causou incômodo: Por que nunca houve uma greve numa fábrica de armas? De tal questionamento é que o autor extraiu a sua história, a qual cativa e convence. O único ponto baixo do livro é justamente a ausência de continuidade. Porém, observando o lado bom da coisa, vejo que cabe ao leitor imaginar, num rio de diversas possibilidades, qual seria o trajeto que a história rumaria. Em suas anotações sobre o escrito que estava em andamento, Saramago pontuou sobre como seria o final:
A mensagem (ou as mensagens) que Saramago buscou transmitir com a história, ou pelo menos parte dela(s), é perceptível aos vários tipos de leitores, restando apenas o lamentar pela ausência de um fim. Seja como for, a escrita típica do autor convence, seduzindo o leitor em todas as suas linhas situadas em poucos parágrafos. Fica o pesar pela interrupção da narrativa, mas, ao mesmo tempo, também o festejar por poder se ter acesso à obra inacabada de Saramago. Um digno adeus literário de um ilustre escritor! Paulo Silas Taporosky Filho Advogado Especialista em Ciências Penais Especialista em Direito Processual Penal Especialista em Filosofia Mestrando em Direito pela UNINTER Membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura Membro da Comissão de Prerrogativas da OAB/PR E-mail: [email protected] Comments are closed.
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