Advogar é ser a voz dos emudecidos, bradando, ainda que dominado pela rouquidão, contra qualquer indicativo de arbítrio que se veja. A arbitrariedade é o inimigo do defensor, com ela não se tem garantia, não se tem justiça, não se tem nada, a não a mais lúgubre escuridão do aprisionamento do ser. Qualquer filamento de arbítrio, por mais frágil e tênue que seja, deve ser rompido e dilacerado com as forças do argumento da liberdade.
O ofício do advogado criminal consiste, justamente, em ser a voz contrária a corrente do ódio, carregando imponente o escudo das garantias, visando proteger a quem quer que seja dos inúmeros projéteis de ira e autoritarismo disparados pelo mais biltre e vil dos “cidadãos de bem” – os últimos bastiões da infalibilidade humana ainda vivos neste solo, conforme os próprios pensam – mesmo quando o atirador mira para seu próprio corpo, ainda que somente o perceba após se ver sangrando em decorrência da sua ignorância. É simples assim, nenhuma garantia menos, nenhuma violência institucionalizada mais. É saber que somos vistos como inimigos por sermos, nada mais, que o último obstáculo que impede, ao menos prontamente, a saciedade por sangue e crueza dos espectadores desta sociedade de espetáculos macabros. E, sabedores disso, devemos fortalecer e reforçar cada base de nossos alicerces, para que sejamos efetivamente um obstáculo rijo e quase impossível de se transpor. Devemos entender que nossa voz é mais que uma forma de comunicação, é uma arma que deve se fazer poderosa. Assim como um punhal, a combatividade do advogado não pode estar “cega” ao ser desembainhada. É preciso que afiemos nossos punhais argumentativos e, por conseguinte, que não passemos a permitir a deslealdade da fala que se apresenta como heroica ante um povo necessitado de figuras paternais e divinas. Sejamos a ponta da flecha do direito, pungentes e prontos a perfurar qualquer exército de discursos simplistas fundamentados na falácia do argumento da moral. Seremos chamados de loucos, seremos chamados de vilões, seremos chamados de idiotas, talvez tudo isso. Mas não podemos ser chamados de fracos, muito menos permitir que a frouxidão nos tome conta e nos impeça de arguir o que efetivamente deve ser aventado. Que o silêncio se faça em virtude do esgotamento da voz, não em razão da escolha de quem ainda tem a virtude falar. Façamos da plena liberdade nosso único ponto de chegada e de nossa voz o poderoso machado que arrebentará os grilhões da vingança pública e do opróbrio das massas. Douglas Rodrigues da Silva Especialista em Direito Penal e Processo Penal Advogado Criminal Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |