Desmond Doss nunca acreditou na violência e, por objeção de consciência, recusou usar qualquer tipo de arma para lutar pelo seu país. Ainda assim, foi um dos principais heróis da Segunda Guerra Mundial. O Soldado Doss alistou-se ao exército americano com o intuito de salvar vidas e não as tirar. E foi exatamente o que fez! Doss participou de uma batalha extremamente sangrenta em Okinawa e, sem qualquer arma em mãos, conseguiu salvar 75 vidas. Jovem idealista e convicto de suas crenças, o incomum soldado escolheu lutar pela vida, em plena guerra. A trajetória militar de Desmond Doss não foi fácil. Objetor de consciência declarado, Doss recebeu toda a hostilidade possível durante o treinamento militar. Colegas e superiores hierárquicos o ridicularizavam e usavam de todas as estratégias para tentar fazê-lo desistir de ir para a guerra. Doss chegou a ser preso por desobediência, pela insistente recusa em portar armas, e os militares tentaram resumir o seu destino a apenas duas possibilidades: usar um rifle ou desistir do alistamento. Contudo, o bravo soldado não se curvou diante da escolha forçada e conseguiu ir desarmado para a guerra, na função de médico socorrista.
A perseverança de Doss é digna de nota. O jovem lutou contra tudo e contra todos para agir de acordo com a própria consciência. Em várias oportunidades duríssimas as suas convicções poderiam ter desmoronado, mas ele seguiu firme. De forma completamente inusitada, Doss foi à guerra para deixar uma mensagem de paz. Durante a batalha de Okinawa, o soldado não salvou apenas as vidas dos seus compatriotas, mas de todos os feridos que foi encontrando pelo caminho. Em determinado momento, Doss encontrou um “inimigo” japonês gravemente ferido, lhe fez curativo e ministrou dose de morfina para aliviar o sofrimento. Cena marcante, pois reveladora da capacidade ímpar de respeito pelo “outro”, ainda que em caótico cenário de guerra. O soldado, embora envolto por violência infernal, abstraiu o ódio instantâneo e conseguiu demonstrar empatia, reconhecendo a humanidade do “outro”. A vida de Desmond Doss, cinematograficamente muito bem representada no filme “Até o Último Homem”, serve como duplo exemplo: primeiro pela resiliência do jovem soldado na manutenção das convicções pessoais, mesmo após submissão a duros “testes”; segundo pela mensagem de paz e respeito pelo “outro”. Em tempos de convicções “líquidas” – que se alteram na velocidade de um clique – e de políticas criminais beligerantes de perseguição a inimigos – ainda que em aparente período de “paz” – a mensagem do soldado Doss se revela extremamente importante. Seja para estimular a luta dos que buscam, na contramão do senso comum, um sistema jurídico menos punitivo e mais estabilizador; seja para mostrar que as soluções pacíficas são as que realmente fazem sentido. Transpondo a mensagem pacífica de Doss para o momento atual de guerra penal interna, lança-se a seguinte indagação: Que tal um Direito Penal que busque salvar vidas ao invés de destruí-las? André Pontarolli Coordenador do Sala de Aula Criminal Professor de Direito Penal e Criminologia Mestrando em Direito pela UNINTER Advogado Criminal Membro da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB/PR Membro da ABRACRIM Comments are closed.
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