Ao vê-los aqui meus queridos amigos, recordo-me, com nostalgia, de um dos momentos mais importantes da minha vida (como este é para vocês!). A data exata: 16 de fevereiro de 2005! Já se vão mais de 11 anos. No dia eu estava neste mesmo teatro e, na condição de orador de turma, assumi esta mesma tribuna para falar. Já fugiram da memória as palavras exatas ditas naquele dia, mas tenho a viva lembrança de que falei com o coração, compartilhando as inquietações, as perspectivas e as ideologias de um jovem sonhador. Confesso que naquele momento, por mais que quisesse demonstrar coragem, estava assustado com a incerteza do que estaria por vir, afinal, quando se olha para o passado é possível ver com exatidão o caminho traçado, perceber os erros e acertos, mas quando se tenta olhar para o futuro, não é possível ver nada (só um vazio!), apenas projeções, aspirações e sonhos! Na data de hoje, vocês me deram um presente de valor inestimável, de uma grandeza que vocês sequer imaginam. Primeiro porque me concederam, não por merecimento e sim por amizade, a maior honra que um professor pode receber de seus alunos, mas, além disso, permitiram que eu me reencontrasse com aquele jovem sonhador de 16 de fevereiro de 2005. Ao olhar para vocês, vejo nos olhos de cada um o reflexo de todas as vontades e expectativas que me marcavam naquele momento. Mas, mais importante, posso reviver o doce sabor da esperança. Esperança de um mundo melhor, com mais Justiça, honestidade e respeito. Muito obrigado por me concederem esta alegria! Este é um daqueles momentos raros que ficam gravados na alma! Como agradecimento, eu tenho um dever para com vocês! Pretendo lhes retribuir, não com as palavras de um conselheiro, mas sim palavras de um amigo que lhes quer muito bem! Quero lhes falar um pouco da vida, do amor e de Justiça, conceitos que facilmente se combinam, elementos homogêneos que compõem a fórmula divina! Assim, de coração lhes digo, antes de qualquer coisa, continuem sempre sonhadores, mantenham sempre o ideal de Justiça que lhes toca o coração. Mas tenham cuidado, para não trocar o idealismo por aparência e os sonhos por convenções sociais. Já dizia Piero Calamandrei que “há mais coragem em ser justo, parecendo ser injusto, do que ser injusto para salvaguardar aparência de justiça”. E por falar em Justiça, não esqueçam, é importante fazê-la e não esperá-la. Certa feita, um Magistrado Francês (Oswald Baudot) disse, em brilhante discurso, que: “a Justiça não é uma verdade estagnada. É sim uma criação perpétua”. Fazer Justiça é missão de vocês (continuando com Baudot). Não esperem o sinal verde do legislador, de reformas sem expectativas, de tribunais engessados. A mudança que esperam deve vir de dentro. Em dias nebulosos, em que a esperança chega a se esvair, vocês devem buscar no íntimo a força para fazer a diferença. Além disso, não se esqueçam da generosidade, não fechem os corações ao sofrimento alheio e nem os ouvidos ao clamor do próximo. É pelo próximo que estamos aqui! Não podemos nos esquecer do homem. Sejam bons, não sejam espertos. Não sucumbam à triste cultura do “jeitinho” e do ganho fácil. Façam vocês a diferença. Jamais se calem diante de uma injustiça, por menor que ela lhes pareça. Lutem pela liberdade, protejam o oprimido, gritem contra o arbítrio. Martim Luther King já dizia que “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à Justiça em todo lugar”. Em uma época de atrocidades e injustiças, de violência e justiçamento (triste realidade!), animem-se pelas idéias de tolerância e amor ao próximo. Não sintam medo de amar! Não esperem recompensas, ajam pela efetividade de seus próprios valores. Lutem por um mundo melhor! Infelizmente, vocês são herdeiros de uma história corrompida. A natureza já começou a revidar a agressão humana. Poderes marcados por profunda corrupção, podem tudo destruir. As relações interpessoais estão cada vez mais marcadas pelo distanciamento e pela indiferença. A tecnologia nos escravizou. A inteligência por vezes tem sido rebaixada à posição de serva do ódio e da opressão. O cenário é caótico (é sim!), mas não pode intimidar, não pode enfraquecer a força de vontade, não pode apagar a luz da esperança que brilha dentro de cada um de vocês. É em meio à turbulência que surgem as oportunidades, é nos momentos difíceis que se revelam os maiores valores. Lutem contra o poder medíocre. Respeitem a força da natureza. Sejam gratos, sobretudo a estas pessoas que aqui estão (pais, mães e amigos), vocês estão aqui hoje como fruto do amor e da força de vontade delas! Agradeçam insistentemente! Amem verdadeiramente. Coloquem a inteligência acima do senso comum. Superem a ira e a intolerância. Medo! Não tenham medo, sigam o coração e o medo desaparecerá! Não sejam covardes! O saudoso Evandro Lins e Silva já dizia que a advocacia não é profissão para covardes. Eu digo mais: a Justiça não é busca para covardes! Mas, atenção, a maior coragem reside em assumir os próprios erros, aceitar as próprias fraquezas. Apontar o dedo é muito fácil, mas olhar para dentro de si é qualidade de poucos. Já me encaminhando para o final, tenho que lhes lembrar que hoje é um momento de despedida. Falo isso com alegria, pois a despedida é também um momento feliz, é uma oportunidade de recomeço. Já dizia Hermann Hesse que “a cada chamado da vida o coração deve estar pronto para a despedida e para o novo começo, com ânimo e sem lamúrias, aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver”. Por fim, meus amigos, nestes últimos anos eu vi o tempo passar junto com vocês, nos tornamos amigos, aprendemos reciprocamente. Eu me tornei pai (vocês acompanharam) e pude sentir a razão da existência. Os pais que aqui estão entendem o que eu digo e eu posso imaginar a alegria e o orgulho que estão sentindo. Quero concluir dizendo que hoje, além de pai, me tornei padrinho, emocionado e com alegria, e quero encerrar esta fala com uma frase, extraída de uma música, que canto para a minha filha desde quando ela nasceu. Para ela eu canto, mas para vocês vou apenas ler, por total ausência de talento musical. Com o mesmo carinho que canto para a minha filha, eu lhes digo: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Sempre avante! Que Deus lhes abençoe! André Luis Pontarolli Advogado Criminal Professor da Pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal da ABDCONST Professor do Curso de Direito das Faculdades OPET Membro da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB-PR Comments are closed.
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