Por dois dias não quis falar nada sobre a tal imagem dos garotos jogando "altinha" perto dos corpos dos ciclistas mortos, pois acreditava, ou queria acreditar, que se tratava de montagem ou de boato maldoso, daqueles que rotineiramente vemos nas redes sociais. Mas é verdade, os garotos estavam jogando "altinha" perto dos corpos dos ciclistas mortos. Considerando que a imagem é verídica, viável é o comentário que passo a fazer. A imagem, por si só, é uma verdadeira aula de criminologia! A cena fala por si, sendo que, os detentores de olhar mais aguçado, já sabiam o que eu diria aqui, antes mesmo de ler o título deste breve texto. Pois bem, antes de usar as minhas palavras, quero transcrever a opinião de um garoto, da mesma idade dos que jogavam "altinha", que concedeu entrevista ao jornal "O Globo": Morador da Rocinha, o adolescente Henrique de Souza, de 17 anos, já perdeu a conta. O último cadáver que ele viu foi no ano passado: um amigo de escola morto no tráfico de drogas. Um corpo no chão não lhe diz muito, confessa: — Não vim à praia na quinta, mas não teria ficado assustado — diz o garoto, com o skate embaixo do braço. — Quem é da favela já viveu muita coisa. O garoto de 17 anos resumiu a ideia! Quem vive cotidianamente a violência, a desestrutura do lar (broken home), que vê a morte de perto e sente a indiferença da sociedade, já não se impressiona com nada e responde com a mesma indiferença! A imagem assusta? Certamente que sim! Mas, serve de alerta para a nossa indiferença com os corpos que não vemos! Afinal, dezenas morrem diariamente, fruto da violência e da desigualdade, enquanto jogamos as nossas "altinhas" cotidianas! André Pontarolli Advogado Criminal
0 Comments
Leave a Reply. |
ColunaS
All
|
|
Os artigos publicados, por colunistas e convidados, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento da Sala de Aula Criminal.
ISSN 2526-0456 |