No encerramento da I Jornada Norte-Nordeste de Direito e Literatura da RDL[1], tive a oportunidade de conhecer um belo e memorável trabalho que rendeu uma comovente homenagem feita nesse evento. Aliás, belos e memoráveis trabalhos, vez que os resultados de uma empreitada audaciosa, promovida pela personalidade que ali recebia o devido destaque, eram muitos e significativos.
A homenageada da noite foi a professora Eneida Agra Maracajá. A solenidade da homenagem, que contou com a fala de Eneida, bem como com a exposição de resultados consequentes de seus projetos através de vídeos e telas, comoveu a todos os presentes. Lágrimas escorreram, arrepios percorreram braços e um clima de satisfação tomou conta do ambiente. Aproveito o espaço da coluna para expor brevemente o que pude acompanhar nos momentos finais daquele que foi um grande e digno evento: a homenagem à professora e ativista cultural Eneida Agra Maracajá. A leitura é muitas vezes apresentada como algo que pode contribuir de maneira significativa para com diversas questões. A literatura ensina. A literatura proporciona reflexão. A literatura proporciona engajamento. A literatura proporciona possiblidades críticas muitas vezes não pensadas até quando do contato com determinada obra. Tudo isso é verdade e muito sobre já foi dito. Mas onde é que a literatura costuma exercer suas salutares consequências? Onde é que seus efeitos geralmente são vistos? Em alguns círculos, mas não em todos. Entretanto, os efeitos da literatura deveriam ser observados em vários outros segmentos, em diversos escalões, alcançando outros nichos, fazendo-se presente em todos os cantos do mundo. Pode-se dizer tudo isso não apenas com relação a literatura, mas também para com a arte. Num nível ainda mais abrangente, arriscando aqui sua utilização mesmo considerando a imprecisão (ou multisignificado) do termo, a cultura é algo que merece amplitude, grandeza, ou seja, que deve estar presente em todos os mencionados cantos. Quiçá partindo de um audacioso objetivo como esse, de amplitude cultural, Eneida Agra Maracajá elaborou o seu projeto “Cultura no Presídio”, visando levar a cultura ao cárcere. Conforme consta em seu projeto, “Cultura no presídio” é uma proposta de humanização, a qual se deu em diversos segmentos. Produção de escritos literários, pintura de quadros e apresentações musicais e teatrais estão dentre os exemplos das produções artísticas que foram efetuadas dentro desse projeto. Como sugere o próprio nome, o projeto visava levar a cultura para dentro do presídio: artes cênicas, música, literatura, pintura, enfim, tudo relacionado à cultura em seu aspecto artístico. E assim foi feito. Eu desconhecia o excelente trabalho da professora Eneida até quando do evento, mas nem por isso escapei daquela comoção que arrebatou a todos. No salão em que ocorreu a homenagem, expostos estavam alguns belos quadros que foram produzidos por participantes do projeto, ou seja, por pessoas inseridas no sistema carcerário que, através da proposta efetivada com êxito de Eneida, tiveram um notável contato com as artes. Lembro que a parte mais emocionante da noite foi quando da exibição no telão de uma apresentação teatral que presos realizaram no teatro da cidade. A apresentação, ou as apresentações, que pode ser assistida pelos presentes, foi tocante. Pelo telão, pode ser visto que quando daquele grande dia, no qual os detentos foram autorizados a sair do cárcere para realizar aquela apresentação cultural, familiares ansiavam que as portas fossem abertas, enquanto um grande efetivo de agentes policiais realizava a segurança do local. Mas o que marcou, o que tocou, o que causou a aquela emoção que proporcionou lágrimas, arrepios e um sentimento único de satisfação, foi quando os detentos entraram no palco e promoveram um verdadeiro show cultural. Um deleite de emoções que somente participando de uma atmosfera como aquela poderia ser explicada. Se para nós, que a tudo aquilo assistíamos através de um telão, a emoção foi grande, fico imaginando como deve ter sido para aqueles que acompanharam ao vivo aquele verdadeiro espetáculo realizado há duas décadas. Pouco pude ainda conhecer sobre a vida e o trabalho da professora Eneida. Aliás, creio que eu fui um dos poucos no evento, se não o único, situado nessa condição de ignorância. Mas pelo pouco que tive a oportunidade de absorver na Jornada e posteriormente sobre os feitos de Eneida, tanto pelo que foi dito sobre sua pessoa por aqueles que prestaram a homenagem (personificada no ato pela Ezilda Melo) e pelo que foi transmitido pelo telão, como também pela fala da própria Eneida, digo que foi suficiente para chamar a tenção, convencer e despertar o interesse pelos seus feitos. Que as contribuições da professora Eneida possam repercutir em todas as searas por ela trabalhadas, principalmente na cultura e nos presídios. Que seu nome entoe, possibilitando demonstrar aos interessados que grandes projetos, por mais audaciosos e complicados que possam ser, são possíveis. Os resultados de Eneida estão aí para mostrar isso. Absorvamos! Paulo Silas Taporosky Filho Advogado Especialista em Ciências Penais Especialista em Direito Processual Penal Especialista em Filosofia Mestrando em Direito pela UNINTER Membro da Rede Brasileira de Direito e Literatura Membro da Comissão de Prerrogativas da OAB/PR [1] O evento aconteceu nos dias 08 e 09 de junho de 2017, na cidade de Campina Grande/PB Comments are closed.
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