Se imaginarmos o futuro, um futuro mais longínquo, como imaginaríamos ele e o reflexo na humanidade?
Talvez, para crianças e aqueles que carregam a extrema bondade nos corações, provavelmente o mundo seria algo bonito, florido, com aquela pincelada de tecnologia futurística. Sim, talvez isso fosse o que teríamos de esperar do futuro. Para Hugh Howey, autor de Silo, a visão retratada do futuro é um pouco diferente. Antes de adentrar à obra, uma divagação é necessária. Se observarmos nós, a sociedade no contexto geral, veremos que os seres humanos fazem por um certo “prazer” a exclusão dos seus semelhantes. Isso vem de eras longínquas, e apenas não enxerga aquele que não deseja realmente enxergar. Não se trata da exclusão do mais fraco como no reino animal, não, é algo diferente, algo que vivenciamos sem nunca compreender inteiramente o por quê é feito. As civilizações sempre distinguiram e dividiram em elos fortes e fracos a sociedade, e os fortes sempre se sobrepuseram em relação aos fracos em todas as formas possíveis: das divisões e exclusões sociais à escravidão, nós, seres humanos, sempre optamos governar a terra desta forma. Quando iniciei a leitura de Silo, confesso que algo me entristeceu. Não havia aquele “quê” de esperança no futuro retratado. O pior (o que realmente entristece) é que fui levado à contemplar pasmo que o futuro descrito subjetivamente se assemelha a uma forma real, palpável e ao meu ver, o provável. A visão trazida no livro não se tratou de uma visão negativa, mas sim realista. O livro carrega uma dura crítica à sociedade usando como pano de fundo um futuro catastrófico. Diante desse pano de fundo, fui levado a perguntar: diante da perspectiva do autor, quando foi que evoluímos? Ou melhor, será que evoluímos? Para melhorar essa explanação o melhor é nos situarmos naquele futuro trabalhado. Por Hugh Howey. Silo conta a história de uma sociedade sobrevivente em um futuro distante. A terra é algo devastado, inóspito e o oxigênio na superfície e altamente mortal. Esses sobreviventes moram a alguns séculos em silos subterrâneos, de grandes profundidades. Lá, evidentemente eles vivem como uma sociedade: nascem, crescem, se reproduzem e morrem; produzem seus alimentos e seus combustíveis. Enfim, levam uma vida “normal”, a vida em sociedade que eles conhecem. Contudo há uma série de proibições, uma delas, a mais grave, e ter a esperança de sair para o mundo exterior que é visível apenas por uma tela no primeiro andar. Aquele que nutre esperança para viver fora do silo é condenado a pena de morte: sair do silo e habitar com os mortos fora. O cenário proposto pelo autor, mesmo que no futuro, não abdica de ideias contemporâneas para lidar com a criminalidade. Sob essa perspectiva já observamos que naquele futuro o ser humano não evoluiu. A morte ronda aquele que não se encaixa em um determinado perfil. Não há muitas alternativas quando confinados naquele espaço, mas aquele é o mundo que eles conhecem e o outro mundo- lá de fora- é algo que traz esperança de uma vida melhor, vista de uma janela. Bem, para alguns será mais difícil de entender, contudo, a mesma sociedade que vive em um lugar subterrâneo, em uma cegueira cavernosa de Silo nada mais que é que o reflexo do espelho da sociedade em que vivemos. Lá, como aqui, os andares inferiores são para pessoas tidas como “inferiores” e as superiores para quem é “digno” de ser superior. Esse conceito é explicito em vários trechos, não se esconde lá que cada um deve ter seu canto. Aqui, no hoje, essa discrepância paira nitidamente na atmosfera, mas inebriados como somos, passa despercebidos diuturnamente. Lá a esperança é banida com a morte. Aqui, no hoje, há a esperança de se banir com morte. No futuro e no hoje, a humanidade não evoluiu, assim sendo, para que vivemos neste vasto planeta se não para darmos passos adiante, ao invés de repetir ciclicamente a história desde a antiguidade? O futuro de Silo nos espreita, como para lembrar que, quando tudo aquilo se concretizar (e isso como profecia não seria absurdo, pelo contrário meus amigos) não podemos falar que não tivemos tempo e fomos pegos desprevenidos. Que a maldade tomou conta do mundo e os bons devem formar uma nova sociedade e colocar regras rígidas para conter seu povo. O bem e o mal estão hoje aqui e estarão no futuro, assim como em Silo. O que resta é apenas enxergamos aquilo que não queremos ver. Paulo Eduardo Polomanei de Oliveira Advogado Especialista em Ciências Criminais Pós-graduando em Direito Empresarial Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |