AS BOAS VINDAS E O ADEUS!
A data eu não me recordo mais. Sou péssimo com datas. Mas o evento jamais poderia esquecer, afinal era a minha primeira sustentação oral. Local: a Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Cheguei cedo, por volta das 11:30, muito antes das portas abrirem! Novato é assim mesmo, chega cedo para evitar imprevistos. Isso sem falar na ansiedade extrema e na arritmia cardíaca. As portas se abriram por volta das 13:05. Cheguei cedo, mas, na hora da inscrição para a sustentação, permiti que os demais advogados furassem a fila. Acreditava que se tivesse mais tempo a ansiedade passaria. Quanta ingenuidade! A minha brilhante ideia de ficar por último, fez com que eu tivesse de aguardar até por volta das 20:00. Sem almoço, cada vez mais ansioso e com a cabeça começando a latejar, fruto da taquicardia incessante. Enfim chegou o momento: Falei com o coração, com coragem, superando a ansiedade. Sustentei como se fosse a mais importante de todas as causas, tomando para mim a emoção e o sofrimento do cliente! Eu sabia que a tese era impossível! Mas eu não estava nem aí para o impossível! Estava ali para lutar, para fazer o que sonhei a vida toda! Eu sustentava, a todo custo, que, na segunda fase de dosimetria, a pena deveria ser reduzida abaixo do mínimo legal! É, eu sei: a jurisprudência do TJPR, do STJ e do STF contrariavam (e ainda contrariam) o que eu estava dizendo! Mas, como disse, não estava me importando com o impossível! Eu dizia que o posicionamento vigente era injusto e ultrapassado, um verdadeiro absurdo! Sustentava que aquela seria a grande oportunidade da câmara rever esta grave injustiça e proferir uma decisão histórica! E eu realmente acreditava ser possível! Ao terminar a sustentação, estava exausto! O Desembargador Relator me encarou, parou, pensou e começou a falar! Segundos intermináveis! Hoje penso que aquele senhor poderia ter sido ríspido, poderia abortar o idealismo de um jovem advogado sonhador, ser duro ao defender a posição da câmara do "ataque" de um menino. Mas não, ele fez justamente o contrário! O Magistrado me deu as boas vindas, elogiou o meu trabalho, disse que eu teria um belo futuro pela frente! Após o cumprimento inicial, com toda a educação, desculpou-se (não precisaria fazer isso), pois iria discordar dos meus argumentos. Disse o Desembargador que, no momento, em sua visão, o posicionamento da câmara deveria ser mantido, mas, quem sabe, em outra oportunidade, tudo pudesse mudar. Arrematou dizendo que era para eu continuar lutando! Sim, eu continuaria! Perdi, mas saí com gosto de vitória, com esperança, estimulado pela postura daquele grande homem! O Magistrado a quem me refiro é o Desembargador Oto Sponholz! Quando recebi a triste notícia do falecimento do Desembargador Oto, resolvi escrever esta breve crônica. Recebi dele as boas vindas e registro aqui o meu adeus, consignando a lembrança nostálgica das palavras esperançosas que recebi! André Pontarolli Advogado Criminal
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ISSN 2526-0456 |