1 REFERÊNCIA JURISPRUDENCIAL
European Court of Human Rights. Casde os Al-Khawaja and Tahery v. Thu United Kingdom. Grand Chamber. Condutor do Voto Françoise Tulkens. Julgado em 15/12/2011. Ementa do julgado[1]: Referral to the Grand Chamber 01/03/2010 This judgment will become final in the circumstances set out in Article 44 § 2 of the Convention. It may be subject to editorial revision. In the case of Al-Khawaja and Tahery v. the United Kingdom, The European Court of Human Rights (Fourth Section), sitting as a Chamber composed of: Josep Casadevall, President, Nicolas Bratza, Giovanni Bonello, Kristaq Traja, Ljiljana Mijović, Ján Šikuta, Päivi Hirvelä, judges, and Lawrence Early, Section Registrar, Having deliberated in private on 16 December 2008, Delivers the following judgment, which was adopted on that date: 1. The cases originated in two application (nos. 26766/05 and 2228/06) against the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland lodged with the Court under Article 34 of the Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Freedoms (“the Convention”) by a British national, Mr Imad Al-Khawaja (“the first applicant”), on 18 July 2005 and by an Iranian national, Mr Ali Tahery (“the second applicant”), on 23 May 2006. 2. The first applicant was represented by Mr A. Burcombe, a lawyer practising in London with Wells Burcombe LLP Solicitors, assisted by Mr J. Bennathan Q.C., counsel. The second applicant was represented by Mr M. Fisher, a lawyer practising in London with Peter Kandler & Co. Solicitors, assisted by Ms R. Trowler, counsel. The United Kingdom Government (“the Government”) were represented by their Agent, Mr J. Grainger of the Foreign and Commonwealth Office. 3. The first applicant alleged that his trial for indecent assault had been unfair because one of the two women who made complaints against him died before the trial and her statement to the police was read to the jury. The second applicant alleged that his trial for wounding with intent to do grievous bodily harm had been unfair because the statement of one witness who feared attending trial was read to the jury. 4. On 5 September 2006 the President of the Chamber within the Section to which the cases had been allocated decided to give notice of each application to the Government. It was also decided to examine the merits of each application at the same time as its admissibility (Article 29 § 3). 5. The applicants and the Government each filed written observations (Rule 59 § 1). 6. A hearing in both cases took place in public in the Human Rights Building, Strasbourg, on 8 January 2008 (Rule 59 § 3). There appeared before the Court: (a) for the GovernmentMrJ. Grainger, Agent,MrD. Perry QC, Counsel,Ms L. Clapinska, Mr S. Jones, Mr M. Lindley, Ms A. Sharif, Advisers; (b) for the applicantMrJ. Bennathan QC,Counsel for Mr Al-Khawaja,MsR. Trowler,Counsel for Mr Tahery. The Court heard addresses by Mr Bennathan and Mr Perry and their answers to a question put by Judge Bratza. 2 O CASO A Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) cuidou de dois casos julgados pelo Reino Unido, nos quais os acusados e solicitantes Al Khawaja e Tahery haviam sido condenados. No caso primeiro caso, Al-Khawaja era um médico que foi acusado de cometer abusos contra suas pacientes, S.T e V.U, no ano de 2003. S.T prestou depoimento para os policiais e narrou os fatos a dois amigos seus, todavia acabou por cometer suicídio (por razões não relacionados ao fato) antes do julgamento. O juiz do caso avaliou se seria possível à acusação se utilizar do depoimento prestado pela vítima perante a polícia no julgamento, sendo que possibilitou tal uso, constatando que: “He said: “putting it bluntly, no statement, no count one.” He went on to observe that the real issue was whether it was likely to be possible for the first applicant to controvert the statement in a way that achieved fairness to the defendant. The judge found that the first applicant could give evidence as to what happened during the consultation. It was also the intention of the prosecution to call ST’s friends to give evidence as to what she had said to them. There were inconsistencies between their statements and ST’s, which provide a route by which ST’s statement could be challenged”. Após a apresentação das provas, o juiz orientou o júri a tomar as devidas cautelas com relação ao depoimento de S.T, pois o mesmo não havia sido tomado em contraditório e havia diferenças com relação as declarações de suas amigas. Ainda, no curso das deliberações, os jurados pediram, por duas vezes, esclarecimentos sobre o depoimento de S.T. O primeiro solicitante acabou por ser condenado pelas duas acusações às penas de 15 meses e 24 meses. Interpôs recurso à Court of Appeal, alegando que o depoimento de S.T aos policiais não poderia ser utilizado e que o juiz não deu orientações adequadas aos jurados sobre as consequências do uso da hearsay evidence, todavia seu recurso foi desprovido, sendo consignado:
Tentou interpor novo recurso a House of Lords, o qual não foi conhecido. No segundo caso, Tahery foi condenado a pena de 9 anos por ter lesionado S. com facadas nas costas durante uma discussão. Ocorre que a vítima não viu o segundo reclamante dando as facadas, narrando isto às autoridades, mas um amigo seu, T., prestou depoimento afirmando que viu os fatos:
A vítima prestou depoimento perante o júri, mas seu amigo T. pediu dispensa do depoimento, sob fundamento de extremo receio (medo), conforme prevê o Criminal Justice Act 2003, tendo a acusação pleiteado por utilizar seu depoimento prestado para as autoridades policiais, o que foi aceito pelo juiz : “I am satisfied in those circumstances upon the criminal standard of proof that this witness is genuinely in fear; and I base that not only on his oral testimony, but also upon my opportunity while he was in the witness box to observe him. I therefore have to go on to consider the questions posed in [section 116(4) of the 2030 Act]. Subsection 4(a) requires me to look at the statement’s contents. I have done so. It is submitted by the defence that they may be unreliable; there being some inconsistencies with the evidence that was given by [S]” Ao final da instrução, o juiz explicou aos jurados as consequências de avaliar a hearsay evidence, afirmando “That evidence, as you know, was read to you under the provisions that allow a witness who is frightened, it is not a question of nerves, it is a question of fright, fear, for his statement to be read to you but you must be careful as to how you treat it”. O segundo solicitante foi condenado e recorreu a Court of Appeal, alegando ofensa ao contraditório, recurso que foi desprovido. 3 OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO A CEDH já havia se deparado com a hersay evidence em outros julgamentos, sendo que, no caso que se estuda, teve de aprofundar o debate sobre a validade ou não da utilização da prova nos termos do artigo 6º, §3º, “d”[2] da Convenção Europeia. Inicialmente, os casos foram julgados por suas Câmaras (Chambers), tendo sido reconhecida ofensa a Convenção em ambos. Posteriormente, a pedido do Governo do Reino Unido, os acasos foram enviados a Grand Chamber, tendo sido decidido por maioria que no caso Al-Khawaja a utilização da hearssay evidence seria válida, enquanto que no caso Tahery não seria. Consignou que, em regra, a hearsay evidence deve ser rejeitada, mas que é possível que os Estados fixem limites excepcionais para sua admissão, os quais devem se adequar a três princípios da common law: 1º) que seu prejuízo seja maior que seu valor probatório; 2º) que o juiz explique aos jurados as consequências e riscos do uso da hearsay evidence; 3º) que os jurados sejam orientados sobre o ônus da prova e sobre a necessidade de uma condenação só poder ser feita quando a culpa do acusado for além da dúvida razoável. A Corte fez uma avaliação da legislação do Reino Unido[3], de casos que haviam sido Julgados ( R. v. Sellick and Sellick; R. v. Davis; R. v. Horncastle and others); da adequação do posicionamento da Suprema Corte do Reino Unido aos julgados da CEDH; e, também, como a questão estava sendo tratada por outros países, sendo destacada a superação da Suprema Corte Americana quando do julgamento de Crawford. Ao analisar as decisões da Câmara, constatou-se que as decisões contra os solicitantes foram tomadas de forma isolada ou predominante (Sole or decisive rules) com base na hearsay evidence e que as contramedidas tomas pelo Governo não seriam suficientes para convalidar a prova: In respect of Mr Al-Khawaja, the Chamber continued: 41. In examining the facts of Mr Al-Khawaja’s case, the Court observes that the counterbalancing factors relied by the Government are the fact that ST’s statement alone did not compel the applicant to give evidence; that there was no suggestion of collusion between the complainants; that there were inconsistencies between ST’s statement and what was said by other witnesses which could have been explored in cross-examination of those witnesses; the fact that her credibility could be challenged by the defence; and the warning to the jury to bear in mind that they had neither seen nor heard ST’s evidence and that it had not been tested in cross-examination. 42. Having considered these factors, the Court does not find that any of them, taken alone or together, could counterbalance the prejudice to the defence by admitting ST’s statement. It is correct that even without ST’s statement, the applicant may have had to give evidence as part of his defence to the other count, count two. But had ST’s statement not been admitted, it is likely that the applicant would only have been tried on count two and would only have had to give evidence in respect of that count. In respect of the inconsistencies between the statement of ST and her account as given to two witnesses, the Court finds these were minor in nature. Only one such inconsistency was ever relied on by the defence, namely the fact that at one point during the alleged assault, ST had claimed in her statement that the applicant had touched her face and mouth while in the account given to one of the witnesses she had said that she had touched her own face at the instigation of the applicant. While it was certainly open to the defence to attempt to challenge the credibility of ST, it is difficult to see on what basis they could have done so, particularly as her account corresponded in large part with that of the other complainant, with whom the trial judge found that there was no evidence of collusion. The absence of collusion may be a factor in domestic law in favour of admissibility but in the present case it cannot be regarded as a counterbalancing factor for the purposes of Article 6 § 1 read with Article 6 § 3(d). The absence of collusion does not alter the Court’s conclusion that the content of the statement, once admitted, was evidence on count one that the applicant could not effectively challenge. As to the judge’s warning to the jury, this was found by the Court of Appeal to be deficient. Even if it were not so, the Court is not persuaded that any more appropriate direction could effectively counterbalance the effect of an untested statement which was the only evidence against the applicant. The Chamber therefore found a violation of Article 6 §§ 1 read in conjunction with Article 6 § 3(d) of the Convention in respect of Mr Al Khawaja. In respect of Mr Tahery, the Chamber observed: “45. In this case, the Government relied on the following principal counterbalancing factors: that alternative measures were considered by the trial judge; that the applicant was in a position to challenge or rebut the statement by giving evidence himself and by calling other witnesses; that the trial judge warned the jury that it was necessary to approach the evidence given by the absent witness with care; and that the judge told the jury that the applicant was not responsible for T’s fear. 46. The Court does not find that these factors, whether considered individually or cumulatively, would have ensured the fairness of the proceedings or counterbalanced the grave handicap to the defence that arose from the admission of T’s statement. It is appropriate for domestic courts, when faced with the problem of absent or anonymous witnesses, to consider whether alternative measures could be employed which would be less restrictive of the rights of the defence than admitting witness statements as evidence. However, the fact that alternative measures are found to be inappropriate does not absolve domestic courts of their responsibility to ensure that there is no breach of Article 6 §§ 1 and 3 (d) when they then allow witness statements to be read. Indeed, the rejection of less restrictive measures implies a greater duty to ensure respect for the rights of the defence. As regards the ability of the applicant to contradict the statement by calling other witnesses, the very problem was that there was no witness, with the exception of T, who was apparently able or willing to say what he had seen. In these circumstances, the Court does not find that T’s statement could have been effectively rebutted. The Court accepts that the applicant gave evidence himself denying the charge, though the decision to do so must have been affected by the admission of T’s statement. The right of an accused to give evidence in his defence cannot be said to counterbalance the loss of opportunity to see and have examined and cross-examined the only prosecution eye-witness against him. 47. Finally, as to the trial judge’s warning to the jury, the Court accepts that this was both full and carefully phrased. It is true, too, that in the context of anonymous witnesses in Doorson, cited above, § 76, the Court warned that “evidence obtained from witnesses under conditions in which the rights of the defence cannot be secured to the extent normally required by the Convention should be treated with extreme care”. In that case, it was satisfied that adequate steps had been taken because of the express declaration by the Court of Appeal that it had treated the relevant statements “with the necessary caution and circumspection”. However, in the case of an absent witness such as T, the Court does not find that such a warning, including a reminder that it was not the applicant who was responsible for the absence, however clearly expressed, would be a sufficient counterbalance where that witness’s untested statement was the only direct evidence against the applicant.” The Chamber therefore also found a violation of Article 6 § 1 read in conjunction with Article 6 § 3(d) of the Convention in respect of Mr Tahery. Contra essas decisões, os Estados interpuseram recurso a Grand Chamber alegando que o direito de contraditar testemunhas não seria absoluto, que as garantias legais seriam suficientes para proteger aos acusados, que deveria ser avaliada a confiabilidade da prova e, ainda, deveria ser resguardado o direito das vítimas. Já os solicitantes, em suas defesas da decisão das Câmaras, alegaram que o artigo 6º, § 3º, d, da Convenção deveria ser interpretado de três formas. Uma primeira rígida, tal qual fez a Suprema Corte Americana em Crawford; a segunda de que as Câmaras não haviam feito uma interpretação rígida ou inflexível do artigo, mas tão somente definiu o núcleo de proteção da garantia convencional; a terceira de que a forma que o Reino Unido vinha tratando o artigo seria uma redução das garantias de um julgamento equitativo. A decisão da Grand Chamber averiguou dois requisitos necessários para avaliação da hearsay evidence, se haveria um justo motivo para testemunha não depor e se as decisões haviam sido tomadas de forma exclusiva ou predominante com a prova. Com relação ao primeiro, consignou-se que a morte da testemunha poderia fazer com que seu depoimento pré júri fosse utilizado (tal qual decidido em Ferrantelli and Santangelo v. Italy e Mika v. Sweden). Com relação ao medo da testemunha, separou a questão do medo decorrer de atos do acusado ou de outros fatores (no caso em julgamento, percebeu-se que o medo seria decorrente da testemunha não querer passar por delator na sua comunidade), sendo que na primeira hipótese se poderia utilizar a hearsay evidence. Com relação a sole or decisive rule, foram constatados três fatores que poderiam verificar sua validade: a) uma diferenciação histórica entre os sistemas da civil e common law, pois neste, de início, não se aceitaria a hearsay evidence, mas passaram a ser aceitas quando criadas exceções legais que garantissem o direito ao processo equitativo, o que teria sido feito pelos 1988 e 2003 Acts; b) a ausência de precisão da regra, que poderia levar a discricionariedade. O que foi afastado pela Corte sob o fundamento de que ao final da apresentação do caso pela acusação, o juiz deve avaliar a confiabilidade da prova, deve parar o júri caso acredite que a prova é muito frágil e que pode ocorrer uma condenação injusta e, ainda, que é dever do julgador alertar aos jurados sobre o valor das provas; c) o terceiro fator seria decorrente do julgado Crawford, o qual havia ressaltado que não há confiabilidade sem contraditório e que, quanto maior a importância da prova, maior a necessidade de tomar precauções quanto ao seu uso. Tese afastada pela Corte, a qual destacou que, muito embora uma prova que em princípio seria decisiva mudasse totalmente após o contraditório, sua interpretação do artigo 6º da Convenção estaria mais ligada a equitatividade do processo como um todo e que as cautelas legais poderiam apontar tal justeza. Assim a Grand Chamber decidiu com relação ao caso Al-khawaja que :
E com relação ao caso Tahery que:
4 PROBLEMATIZAÇÃO Como se verifica, o caso em análise acabou por se distanciar muito do entendimento firmado pela Suprema Corte Americana em Crawford, na medida em que sua preocupação foi verificar as Leis que regulam a hearsay evidence e se sua aplicação foi decisiva ou não para condenação. Tal decisão foi alvo de inúmeras críticas no continente europeu, vez que enfraqueceu o direito ao contraditório e, consequentemente, a um processo equitativo. A respeito, Rafael Alcácer Guirao afirmou que:
Ao permitir que uma condenação fosse firmada com base numa prova não submetida ao contraditório, somente pelo fato de que haviam outras que a convalidavam a CEDH acabou por se aproximar do processo penal brasileiro, mesmo que ainda mantenha uma proteção muito maior ao processo equitativo. Como se sabe, no Brasil os elementos informativos colhidos no inquérito policial podem ser utilizados, desde que em conjunto com alguma outra prova, para fundamentar eventual condenação. Outrossim, já vimos que depoimentos prestados ante órgãos policiais e que não tenham sido submetidos ao contraditório são considerados hearsay evidence. A despeito das inúmeras críticas que o artigo 155 do Código de Processo Penal brasileiro sofre, o mesmo continua sendo aplicado diariamente por diversos juízes e tribunais. Inclusive, em processos do Tribunal do Júri, os elementos informativos do inquérito são lidos sem que seja feita qualquer ressalva com relação ao seu uso. Assim, percebe-se que a regra da sole or decisive rules é similar ao que se aplica em solo brasileiro, pois nossa jurisprudência segue permeada por uma mentalidade inquisitiva incompatível com a Constituição Federal: HABEAS CORPUS. PARTICIPAÇÃO, NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR, EM VIA PÚBLICA, DE DISPUTA AUTOMOBILÍSTICA NÃO AUTORIZADA PELA AUTORIDADE COMPETENTE, COM DANO POTENCIAL À INCOLUMIDADE PÚBLICA OU PRIVADA. CRIME DE RACHA. ART. 308 DO CTB. EXISTÊNCIA DO FATO PUNÍVEL. QUESTÃO NÃO APRECIADA PELO ACÓRDÃO IMPUGNADO. CONDENAÇÃO BASEADA EXCLUSIVAMENTE EM ELEMENTOS INFORMATIVOS COLHIDOS NO INQUÉRITO POLICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. ACERVO PROBATÓRIO IDÔNEO. REEXAME DE PROVAS. VIA ELEITA INADEQUADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça, aqui e agora, decidir acerca da inexistência de prova colhida sob o crivo do contraditório apta a demonstrar a ocorrência do fato típico, porquanto do tema não cuidou o acórdão impugnado e, em relação aos pacientes, a sentença em tela já transitou em julgado. 2. Ultrapassada a preliminar, é possível dizer também que não cabe, neste âmbito, discutir as provas, porquanto demandaria um exame profundo verificar se, de fato, não foram aptas a demonstrar a existência do fato punível. 3. No caso, o Juiz, ao proferir a sentença, externou sua convicção acerca dos fatos narrados na denúncia com base não só nos elementos de informação colhidos durante a fase policial, mas também em provas produzidas no âmbito judicial. Atuou, portanto, dentro do livre convencimento motivado, nos limites legais. 4. Habeas corpus denegado. (STJ, Sexta Turma, HC 222302/RJ, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 01/03/2012, grifo meu). Ocorre que, diferentemente da Corte Europeia, no Brasil os depoimentos prestados perante as autoridades policiais são utilizados sem que seja feita qualquer ressalva com relação aos mesmos, i.e., não existe qualquer regra que regulamente seu uso (que deveria ser excepcional), o que seguindo os termos do julgamento profediro em Al-Khalwaja e Tahery fere o direito a um processo equitativo. Não se pode ignorar que a o Estado Acusação pode se sobrepor ao devido processo legal, tal qual bem pontuaram os Juízes Sajó e Karakas em voto divergente do caso em estudo:
Os referidos juízes concluíram seu voto com um alerta que serve a todos: “To our knowledge this is the first time ever that this Court, in the absence of a specific new and compelling reason, has diminished the level of protection. This is a matter of gravest concern for the future of the judicial protection of human rights in Europe”. Assim, seguindo o julgado da CEDH, urge que a jurisprudência e doutrina comecem a pontuar as regras nas quais um elemento de informativo pode ou não ser utilizado. Ademais que nos procedimentos do Júri, o Juiz Presidente faça a devida ressalva ao conselho de sentença sobre o valor da hearsay evidence e dos riscos que existem na sua utilização. Iuri Victor Romero Machado Advogado Criminal e Professor de Processo Penal. Especialista em Direito e Processo Penal. Especialista em Ciências Criminais e práticas de advocacia criminal. Pós graduando em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná. [1] Os julgados da Corte Europeia de Direitos Humanos não possuem uma ementa ou sumário, mas sim um resumo dos procedimentos feitos pela Corte. [2] 3. O acusado tem, como mínimo, os seguintes direitos: a) Ser informado no mais curto prazo, em língua que entenda e de forma minuciosa, da natureza e da causa da acusação contra ele formulada; b) Dispor do tempo e dos meios necessários para a preparação da sua defesa; c) Defender?se a si próprio ou ter a assistência de um defensor da sua escolha e, se não tiver meios para remunerar um defensor, poder ser assistido gratui-tamente por um defensor oficioso, quando os interesses da justiça o exigirem; d) Interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e obter a convocação e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições que as testemunhas de acusação; e) Fazer?se assistir gratuitamente por intérprete, se não compreender ou não falar a língua usada no processo. [3] Under section 114 of the 2003 Act, hearsay evidence is only admissible in criminal proceedings if one of a number of “gateways” applies. Although it was not relied upon in the second applicant’s case, one such gateway is section 114(1)(d) which allows for the admission of hearsay if the court is satisfied that it is in the interests of justice for it to be admissible. Section 114(2) provides: “In deciding whether a statement not made in oral evidence should be admitted under subsection (1)(d), the court must have regard to the following factors (and to any others it considers relevant)-- (a) how much probative value the statement has (assuming it to be true) in relation to a matter in issue in the proceedings, or how valuable it is for the understanding of other evidence in the case; (b) what other evidence has been, or can be, given on the matter or evidence mentioned in paragraph (a); (c) how important the matter or evidence mentioned in paragraph (a) is in the context of the case as a whole; (d) the circumstances in which the statement was made; (e) how reliable the maker of the statement appears to be; (f) how reliable the evidence of the making of the statement appears to be; (g) whether oral evidence of the matter stated can be given and, if not, why it cannot; (h) the amount of difficulty involved in challenging the statement; (i) the extent to which that difficulty would be likely to prejudice the party facing it.” · The “gateway” relied on the second applicant’s case was section 116, which allows for the admission of statements of absent witnesses. Section 116 where relevant provides: “(1) In criminal proceedings a statement not made in oral evidence in the proceedings is admissible as evidence of any matter stated if-- (a) oral evidence given in the proceedings by the person who made the statement would be admissible as evidence of that matter, (b) the person who made the statement (the relevant person) is identified to the court’s satisfaction, and (c) any of the five conditions mentioned in subsection (2) is satisfied. (2) The conditions are-- a) that the relevant person is dead; (b) that the relevant person is unfit to be a witness because of his bodily or mental condition; (c) that the relevant person is outside the United Kingdom and it is not reasonably practicable to secure his attendance; (d) that the relevant person cannot be found although such steps as it is reasonably practicable to take to find him have been taken; (e) that through fear the relevant person does not give (or does not continue to give) oral evidence in the proceedings, either at all or in connection with the subject matter of the statement, and the court gives leave for the statement to be given in evidence. (3) For the purposes of subsection (2)(e) ‘fear’ is to be widely construed and (for example) includes fear of the death or injury of another person or of financial loss. (4) Leave may be given under subsection (2)(e) only if the court considers that the statement ought to be admitted in the interests of justice, having regard-- (a) to the statement’s contents, (b) to any risk that its admission or exclusion will result in unfairness to any party to the proceedings (and in particular to how difficult it will be to challenge the statement if the relevant person does not give oral evidence), (c) in appropriate cases, to the fact that a direction under section 19 of the Youth Justice and Criminal Evidence Act 1999 (c. 23) (special measures for the giving of evidence by fearful witnesses etc) could be made in relation to the relevant person, and (d) to any other relevant circumstances. (5) A condition set out in any paragraph of subsection (2) which is in fact satisfied is to be treated as not satisfied if it is shown that the circumstances described in that paragraph are caused-- (a) by the person in support of whose case it is sought to give the statement in evidence, or (b) by a person acting on his behalf, in order to prevent the relevant person giving oral evidence in the proceedings (whether at all or in connection with the subject matter of the statement).” REFERÊNCIAS AGUIREO, Rafael Alcácer. La devaluación del derecho a la contradicción en la jurisprudencia del TEDH. In Revista para el análises del Derecho. Indret 4/2013. European Court of Human Rights. Case Al-Khawaja and Tahery v. The United Kingdom. Grand Chamber. Condutor do Voto Françoise Tulkens. Julgado em 15/12/2011. Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |