Os dias são maus. A sociedade sangra e pelo jeito sofre de hemofilia. Não há remédio capaz de estancar este sangramento e não há esperança de que esta ferida cicatrize. Fui nomeado pelo juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba para fazer um júri de um réu com um histórico que chama bastante atenção. Quero compartilhar com vocês esse caso, quero que todos conheçam a verdadeira realidade da sociedade e a que ponto chegamos. O acusado tem 24 anos. É o filho mais novo de quatro irmãos do sexo masculino. No ano 2000 seu irmão mais velho morreu brincando de roleta russa. Em 2015 outro irmão morreu de over dose. Os outros dois estão presos. Seu pai, já falecido, era morador de rua e alcoólatra. Sua mãe, ainda viva, já foi presa por roubo e atualmente trabalha com reciclagem de lixo. Seu padrasto é portador do vírus HIV e está extremamente debilitado, a beira da morte. O réu estudou apenas dos 7 aos 10 anos de idade. Aos 11 anos teve meningite e perdeu a audição. Não conhece a língua brasileira de sinais e se comunica apenas por leitura labial. Aos 14 anos se amasiou com uma menina de 13 surda e muda e com ela teve dois filhos, que estão aos cuidados de sua avó materna. Aos 14 anos começou a fumar crack e se considera dependente da substância. Possui três condenações criminais por roubo e será levado a júri por homicídio qualificado, pois matou sua namorada porque ela usou 5 pedras de crack a mais do que ele. Não quero discutir se a sociedade tem parcela de culpa ou não, quero apenas lhes mostrar que a sociedade está sangrando e os dias são realmente maus. Como chagamos até aqui eu não sei. Mas será que ainda temos para onde ir? Eu agora tenho esse caso em minhas mãos. Não há para onde correr, pois fui nomeado pelo juiz e não posso desistir. Fico pensando, o que podemos fazer? Ou melhor, estamos fazendo alguma coisa para que os dias melhorem? Isso é muito triste. Tudo é triste sim. Por vezes nos fechamos em nossa realidade com o desejo de sofrer menos, mas isso apenas faz com que a sociedade sofra cada vez mais! Este é meu desabafo. Obs.: nem só de Justiça Federal e crimes de colarinho branco é feita a Advocacia criminal. Jeffrey Chiquini Advogado Especialista em Direito Penal e Processo Penal
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