Artigo da Colunista Aicha Eroud com a Professora Fabiana Irala, refletindo sobre a importância da leitura, vale a leitura! '' Deve-se mencionar: não há nada mais eficiente para a implementação de Estados totalitários do que a propagação do terror. Como bem destacava Hannah Arendt: “O terror é a realização da lei do movimento” [1]. E nesse sentido, as fakes news são absolutamente hábeis''. Por Aicha Eroud e Fabiana Irala Estamos atravessando um dos períodos mais conturbados que a humanidade já presenciou. O ano de 2020 chegou trazendo consigo um lamentável cenário global permeado por mortes, distanciamentos e tristezas. A atual pandemia provocada pelo Covid-19, gerou inúmeras consequências, impactando na rotina diária da população mundial.
Na tentativa de conter o avanço da pandemia, muitos países decidiram fechar suas fronteiras. Ainda, uma das medidas de contenção se pautou na inclusão do distanciamento social e no fechamento temporário de algumas atividades comerciais consideradas não essenciais. Com efeito, houve uma brusca ruptura na rotina da maioria populacional, provocando uma série de consequências pessoais e econômicas. Nesse sentido, percebeu-se um aumento de buscas na internet por opções de distração. Transmissões ao vivo nas redes sociais, aulas de ginástica, idiomas, culinária, arquitetura e demais áreas de interesse. Uma vez o fluxo da atenção estando voltado na internet, também houve uma fluidez de informações com o dinamismo proporcionado por essa tecnologia. Basta um click, e eis a publicação – de qualquer natureza – lançada ao mundo virtual, emantada pela velocidade e alcance global. Ainda, ao mesmo tempo que informa, impacta. Todo esse emaranhado de informações, considerando a atualidade, invade o nosso cotidiano com notícias impactantes. Com o advento do Covid-19, muitas dessas notícias derivam dos efeitos provocados pela pandemia, disseminando conteúdos pautados em sua evolução, revelando o número diário de vítimas e o sofrimento causado pela situação. Importante salientar que as divulgações dos dados são necessárias para manter a população informada sobre a real situação. Não obstante, como se não bastasse o excesso de informação, ainda temos que lidar com a avalanche de fakenews. Estas ganham força e notoriedade, pois, muitas vezes, não há a preocupação no quesito “verificar a fonte e a veracidade do conteúdo”. Como se não bastasse a leitura – muitas vezes lendo somente o título – ainda tem o compartilhamento. Marcação de amigos. E assim segue o lamentável percurso das fakes. Deve-se mencionar: não há nada mais eficiente para a implementação de Estados totalitários do que a propagação do terror. Como bem destacava Hannah Arendt: “O terror é a realização da lei do movimento” [1]. E nesse sentido, as fakes news são absolutamente hábeis. Muitos recorrem às redes sociais como forma de interagir com os próximos e buscar novidades. Trata-se de um ambiente virtual que comporta notícias de todas as espécies, interações entre seus membros, e ainda facilita a disseminação de conteúdos. A velocidade que as informações percorrem nesses locais é um fator que contribui para a informação em tempo real, mas que também pode agregar uma série de problemas, tanto por questão de quantidade, quanto por qualidade. O excesso de informação tem nuances que refletem uma série de desordem emocional inusitado, nem sempre enfrentado. E daí surge a questão de como enfrentar isso. Para esse excesso de informação dá-se a nomenclatura infoxicação, sendo considerada como “[...] um termo inventado há pouco mais de 20 anos pelo físico espanhol Alfons Cornella, que refere a uma doença silenciosa, causada pela soma de informação com intoxicação” [2]. Tal fenômeno se dá, principalmente, pela permanência excessiva na internet, fato que vem se agravando com o distanciamento social e com a necessidade de ficar mais tempo em casa. Muitas vezes esse cenário pode parecer inofensivo, mas na realidade pode causar sérios danos emocionais e psicológicos, irradiando alguns sintomas, como “hiperconectividade, dispersão, dificuldade para concentrar-se, crescimento da ansiedade, aumento do estresse, e aparecimento da síndrome da fadiga informativa” [3]. Diante dessa situação, os livros podem ser a salvação. Exercer o bom hábito de ler livros, tende a contribuir para a redução do uso excessivo da internet. O grande desafio é, primordialmente, tornar a leitura de livros um hábito. Ao contrário da internet ou da televisão, os livros carregam conteúdos limitados ao seu tema, podendo estes ser escolhidos a dedo pelo (a) leitor (a). A premissa de que nada substitui um bom e velho livro encontra-se muito mais válida do que nunca. Não há de se pensar que ler livros é uma tarefa enfadonha, se comparada as tentadoras postagens diárias das redes sociais. Ademais, “a desconstrução dos nossos padrões sobre literatura e o ato de ler serão de maior valia quando estivermos envolvidos com as lituras profundas e abrangentes [...]” (PAULA, 2011, p. 38). Essa regra é, inclusive, válida para os acadêmicos e operadores do direito, que muitas vezes para se manterem informados, recorrem aos mecanismos virtuais. Não há problema quanto a isso, desde que observado o equilíbrio e se evite a exposição excessiva às informações. Ademais, vale frisar a importância dos estudos do Direito e Literatura, sendo que “o direito está inserido na e pela linguagem, tal qual a literatura. As palavras dizem coisas. As coisas são ditas pelas palavras. Daí que no e pelo artifício da linguagem a compreensão e interpretação do mundo se faz possível” (SILAS FILHO, 2017, p. 21). Provavelmente vemos esse movimento de infoxicação porque as informações na internet estão prontas, não demandando uma interpretação e reflexão sobre seu conteúdo. Lê-se e rapidamente a informação é substituída por outra. Já as leituras de livros demandam lucidez e tempo, bens raros nessa sociedade pós-moderna. Não há como negar: os livros possibilitam o aguçamento de uma visão mais crítica e humana acerca de muitos temas. Permitem viajar sem sair do lugar. Nos protege da ignorância. E nos salva dos momentos de trevas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: [1].ARENDT, Hanna. As origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 618. [2]SEGATO, Luana. Saúde mental: Infoxicação: os excessos de interações virtuais estão contribuindo para o nosso adoecendo emocional?. Publicado em: 11 de mar. de 2020. Disponível em: <https://observatoriodacomunicacao.org.br/colunas/saude-mental-infoxicacao-os-excessos-de-interacoes-virtuais-estao-contribuindo-para-o-nosso-adoecendo-emocional/>. Acesso em: 07 de jun. de 2020. PAULA, Laura da Silveira. Teoria da literatura. 1ª ed. Curitiba: Ibpex, 2011. SILAS FILHO, Paulo. O direito pela literatura: algumas abordagens. 1ª ed. Florianópolis, SC: Empório do Direito, 2017. Aicha de Andrade Quintero Eroud Advogada especialista direito tributário, direito econômico e financeiro. Pós-graduanda em gestão, estratégia e planejamento em fronteiras (IDESF). Aluna especial do Mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento da UNILA. Membro fundadora do Instituto de Estudo do Direito – IED. Sócia Fundadora do Instituto de Ensino e Pesquisa Latino Americano Ltda.– IEPLAM e Direito Talks. Fabiana Irala Doutoranda em Criminologia pela Universidade de São Paulo – USP, Largo do São Francisco. Professora de direito penal da Cesufoz e do Programa de Mestrado em Criminologia da Universidade San Carlos na Guatemala. Advogada.
0 Comments
Leave a Reply. |
ColunaS
All
|
|
Os artigos publicados, por colunistas e convidados, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento da Sala de Aula Criminal.
ISSN 2526-0456 |