Estive lendo a obra O Direito pela Literatura* do promissor Paulo Silas Filho e fui influenciado a abordar um tema que muito preocupa: o ensino jurídico carece de leitores natos e não apenas de simuladores de leitura. Simuladores de leitura são aqueles que retiram do texto o essencial, a ideia principal, geralmente trazida por resenhas de livros ou resumos que outros fizeram. Não chegam a ler o original e pouco sabem o que a obra traz em seu âmago. Uma causa muito provável do aumento de leituras dinâmicas, de pessoas que leem apenas resumos das obras, é a falta de tempo em um mundo expedito e proativo, que não dá um descanso sequer. Outro motivo, e essa é a assustadora razão, é a falta da prática da leitura. Na obra supracitada pode-se encontrar desde Victor Hugo, Franz Kafka até o atual John Grisham e Stephen King. A ideia é criar discussões acerca daquilo que a literatura, sempre enraizada nos problemas sociais, traz para a vida do leitor, ou seja, as problemáticas e as inquietações. O que fazer com determinados transtornos que algumas obras trazem ao leitor? O estudante de direito já sabe que inquietação, desassossego e muito raciocínio irão o acompanhar para sempre. Retirar dessas questões sensações de que se pode construir teses, estudos, dissertações e novas práticas é o que se incentiva naquele que se debruça sobre uma obra e que estuda o direito. Nada é mais prático do que peticionar. Mas na maioria das vezes o pragmatismo encontra um versátil ponto de intersecção: o intelectualismo. Desvendar teses e trazer nuances inéditas se apropriando de histórias contadas pela literatura é um diferencial que o autor do livro sabe muito bem como usar. Sem falar no vasto vocabulário, sempre em crescimento e trazidos pelos estudos literários. Mas os simuladores de leitura estão por aí, disseminando a preguiça e putrificando obras singelas com seus resumos de última hora. Por isso, corram até o original, vão perseguir obras fantásticas e façam da leitura seu momento de vida inigualável, aquele momento solipsista, somente seu. Manuais de direito ou resumos de obras essenciais para o estudo não dão respaldo ao que realmente representa a ideia do autor. Só que muitas vezes existem determinadas ideias que são mesmo difíceis de serem interpretadas. Por isso, a discussão e os seminários de pesquisas, auxiliam na exegese, bem como as dúvidas devem necessariamente ser sanadas com os professores que indicaram tais obras na constância da faculdade, dessa forma se faz o conhecimento. Mas ainda assim existem os simuladores da leitura. Combata-os! Leia até que o momento se torne prazeroso, até que se torne uma parte sua ler livros e não apenas manuais ou resumos, resenhas e interpretações distantes da sua. Resumos e resenhas são necessárias para sanar dúvidas que venham a existir, mas não preenchem a alma como a leitura íntegra. Por isso, se encha de dúvida, permita-se, bem como o autor da obra, afogar-se no conhecimento. Iverson Kech Ferreira Advogado especializado em Direito Penal Mestrando em Direito pela Uninter Pós-graduado pela Academia Brasileira de Direito Constitucional, PR, na área do Direito Penal e Direito Processual Penal Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário Internacional É pesquisador e desenvolve trabalhos acerca dos estudos envolvendo a Criminologia, com ênfase em Sociologia do Desvio, Criminologia Critica e Política Criminal Referencia: Silas Filho, Paulo. O direito pela literatura. Algumas abordagens. Empório do Direito, Florianópolis, 2017. Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |