Existe uma carga de estigma ao usuário da droga ilícita, porque há um imaginário social e inconsciente segundo o qual apenas pessoas sem recursos financeiros, desprovidas de formação acadêmica e em posições sociais menores sejam usuários de drogas. Isso, na verdade, não passa de uma falácia. A droga ilícita (maconha, cocaína, crack etc.) está presente em todas as camadas sociais. A rigor, a humanidade sempre usou drogas, e sempre usará. Um colega advogado de São Paulo, Dr. Marcelo Feller, realizou sustentação oral defendo dois clientes acusados de tráfico de entorpecentes no Habeas Corpus de nº 2261384-24.2015.8.26.0000 no TJ/SP. Nesta oportunidade, o brilhante advogado transcreveu situações reais de profissionais do direito, inclusive juízes, que usam maconha, mas nem por isso são traficantes. Ora, é sabido que grandes profissionais de todas as áreas (medicina, engenharia, tecnologia etc.) são usuários contumazes de cocaína, maconha e outras drogas. Sendo assim, o advogado em questão apenas disse a mais pura e luminar verdade no estilo Nelson Rodrigues de dizer. Fumar maconha ou cheirar cocaína não mensura caráter, tampouco competência. Muito menos torna um cidadão inapto ao serviço público. Apesar dos efeitos nocivos a saúde, todos somos livres para fazer escolhas, inclusive de fumar maconha. Entre um magistrado maconheiro, um preguiçoso e um corrupto, eu vou preferir sempre e sempre o primeiro. Que seja maconheiro, mas que realize seu trabalho dentro da lei, da ética e respeitando os seres humanos cujas vidas estão sob sua responsabilidade. Deve ser registrado, contudo, que a coragem e independência do colega, Dr. Marcelo Feller, lhe custou uma representação criminal oriunda do Desembargador Relator do Habeas Corpus em questão que determinou que a Procuradoria Geral de Justiça abrisse investigação. Já é demais! Ser representado apenas porque falou a verdade sem dizer nomes nem situações concretas. Justamente por isso, este simples advogado, Lucas Bonfim, é solidário ao colega de São Paulo, e adianta que se for convidado, subscreve representação ético-disciplinar em desfavor do Desembargador do TJ/SP que atentou, não apenas contra Dr. Marcelo Feller, mas sim contra toda nossa classe de advogados criminais. Diante de tudo, fica a reflexão: a advocacia criminal é de resistência. O advogado criminalista realiza a última fronteira entre a vida do cidadão e um Estado fascista travestido de Estado de Direito. Precedentes como este que aqui se transcreve são perigosos e devem ser asfixiados pela OAB federal. "Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina". (Nelson Rodrigues) Lucas Bonfim Advogado Criminal Professor universitário Parecerista jurídico
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