A racionalidade cientifica filosófica puramente latino-americana, abre novos conceitos e formas de enxergar a afirmação da lógica estabelecida e determinante dos países conquistadores e que se expandem; tanto culturalmente quanto economicamente mundo afora.
Nesse interim, é essencial o despensar das formas usuais que foram estimadas como uma verdade globalizada, que em sua mundialização mantêm dois fatores bem conservados: o status quo global de quem define o que é verdade e como esta é estabelecida, e, a dominação usual que os grandes e mais influentes centros possuem sobre os outros entendidos como “coloniais”, mantida pela dominação e ingerência dos países reconhecidos internacionalmente merecedores de mais prestígio, por sua própria riqueza e influencia. Destarte, quebrar os paradigmas é essencial para que um sentido de liberdade possa começar a fazer parte das decisões que se toma fora dos eixos mais ricos do planeta. Numa ruptura com uma totalidade que avança e ilumina o centro e aqueles que perfazem as suas fileiras, mas que também são moldados por elas e pela influência dos impérios que se dedicam ao consumismo e unicamente ao mercado e ao lucro, surge a crise fomentada pelas diferenças entre uns e outros. Enquanto inserida no interior dos conceitos europeus e norte-americanos e dessa forma, moldados por eles, todavia, em uma realidade econômica, cultural e tecnológica que em muito difere, não há liberdade de crescimento ou hegemonia dos que fazem parte da totalidade, gerida pelos mais ricos. Estar inserido nessa globalização significa ser coordenado por ela, desde educacionalmente até politicamente; não tomando reais decisões sobre o futuro ou sobre os passos a serem tomados. Cada vez mais, o número de excluídos cresce e a hegemonia e força do Estado decresce em benefício de grandes corporações que visam ao lucro em detrimento das pessoas. Para isso, quebrar as correntes passa a se tornar essencial, mas também um grande desafio. Uma vez a crise exposta, tanto cultural quanto ideológica, a ruptura com o paradigma imposto parece ser a saída. Deve-se antes, entender o conceito de paradigmas, trazido por Thomas KHUN e adaptado ao pensamento de Enrique DUSSEL e Celso LUDWIG em seus estudos, para que enfim a filosofia da libertação possa ter o seu lugar reconhecido entre as antagônicas formas de dominação e liberdade. Para isso, uma breve análise a respeito dos paradigmas filosóficos e como um sistema gerido pela crise de suas substâncias e objetos passa a ser substituído por outro sistema, numa crise de paradigmas, bem resolvido por Thomas KUHN, que conceitua o paradigma de forma objetiva.[1] Explica, destarte, que o conhecimento não se desenvolve de maneira uniforme e cumulativa, mas sim, estabelece as situações difusas da existência, ou seja, a experiência humana pode transformar novos modelos para substituição e a entrada de novas regras. Traz o entendimento essencial deste estudo sobre os paradigmas, que é o destaque desenvolvido pela ciência em duas distintas fases: a ciência normal e por segundo, a fase da ciência revolucionária. Na primeira fase, KUHN explica como a verdade se finca e se estabelece enquanto paradigma aceito pela comunidade cientifica, quando os cientistas seguem as mais básicas regras previamente estabelecidas pelo padrão mínimo cientifico, apaziguando-se no paradigma aceito até então. É somente a partir do surgimento de situações que não se têm respostas, que a ciência normal entra em crise e a exigência de uma solução dos problemas que ficaram acumulados faz surgir a ciência revolucionária, ou o novo caminho, de forma descontínua e qualitativa que estabelece o limite da verdade cientifica. Essa revolução seria a segunda fase, a troca dos alicerces do que é conhecido como verdade por uma outra estrutura de pensamento. Nesse ponto, a falseabilidade da ciência, que indica a previsão daquilo que é cientifico ou não, concebido pelo critério da demarcação de POPPER,[2] identifica que ao comprovar a verdade de certa teoria, esta seria refutada por uma outra fórmula que realmente comprovasse a verdade cientifica. Acredita-se assim, que a teoria somente pode ser comprovada como cientifica se for possível a confirmação de sua verdade. No entanto, para isso, é preciso mecanismos que venham a provar a falseabilidade do que antes foi dito como verdade pela ciência. Um exemplo disso, trazido por Popper, são os aparatos tecnológicos hodiernos que possuem tecnologia superior das épocas de Newton ou Galileu. Assim, a teoria da relatividade einsteiniana surge como novo modelo explicativo que refuta a teoria da gravitação newtoniana, causando uma transformação cientifica pela revolução. Para KHUN, essas são revoluções cientificas, uma vez que “a transição sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão usual de desenvolvimento da ciência amadurecida”[3]. Todavia, ciência não se transforma nem se exaure de maneira gradual ou até mesmo contínua. Destarte, muda de origem paradigmática, onde não se trata de bajular o antigo paradigma a fim de que este seja novamente a solução para as perguntas que não cessam, mas sim criar o novo, pela reconstrução de todo objeto de investigação, partindo do início das novas formulações teóricas, dos novos princípios, e inclusive inéditas formulações de método a ser utilizado doravante.[4] Entretanto, quando o assunto é a ordem global vários são os agentes que tomam seus papéis, uns como protagonistas que controlam por sua força econômica, bélica e sua influência cultural, e aqueles que são os controlados. Os países e as regiões do globo terrestre são divididos por ricos e pobres, num paradigma que conceitua o consumismo como ápice moral e epiteto de sucesso.[5] Nesse sistema, os excluídos não possuem hegemonia, uma vez que o Estado perde seu controle para as grandes empresas, tornando o cidadão carente cada vez mais afastado, sem voz e lugar que possa buscar para que seja ouvido.[6] Contudo, a crise do paradigma se faz presente e a ruptura apregoada por KHUN se faz por meio da revolução dos conceitos realizados a priori pelos dominados. A filosofia da libertação traz a possibilidade desse rompimento, desde as bases educacionais e cientificas até a ampla cidadania, anunciada pela alteridade. Para isso, a voz ao excluído, que é tido como o outro revela a práxis da teoria a partir do sistema dominante, pois evidência a crise e a fragilidade do sistema atual que se comprova pelo número de excluídos, países pobres e periferias esquecidas que cresce a cada dia: “a mera existência da vítima organizada e crítica já é manifestação de crise do sistema.”[7] Destarte, a quebra do paradigma seria o próximo passo para um sistema em crise. Nas palavras de KHUN, a “insegurança é gerada pelo fracasso constante dos quebra cabeças da ciência normal em produzir os resultados esperados. O fracasso das regras existentes é o preludio para uma busca de novas regras.”[8] Assim também o é nos conceitos filosóficos essenciais para a reprodução do pensamento e da apuração de uma filosofia, ou de uma forma de entender a vida. Dessa forma, DUSSEL entende que “libertar não é só quebrar as cadeias, mas desenvolver a vida humana ao exigir que as instituições abram novos horizontes que transcendam à mera reprodução de “o Mesmo””, ou do dominante, seria a essência das lutas que devem se desencadear entre dominantes e dominados.[9] Nesse ponto a Filosofia da Libertação seria o próximo passo para uma real emancipação, após a quebra do vigente paradigma, que se encontra em uma crise desmedida. Iverson Kech Ferreira Mestre em Direito - Uninter Pós-graduado pela Academia Brasileira de Direito Constitucional, na área do Direito Penal e Direito Processual Penal Advogado [1] KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2006. [2] POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. 2ª edição. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 27-44. [3] KUHN, Thomas. Op. Cit., p. 32. [4] Idem, p. 85. [5] CHOMSKY, Noam. O lucro ou as pessoas? Bertand Brasil, Brasília, 2002, p. 51. [6] BAUMAN, Zygmunt. Em Busca da Política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 25/32. [7] DUSSEL, Enrique. DUSSEL. Ética da libertação - na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 561 [8] KUHN, Thomas, Op. Cit., p. 95. [9] Op. Cit., p. 566. Comments are closed.
|
ColunaS
All
|
|
Os artigos publicados, por colunistas e convidados, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento da Sala de Aula Criminal.
ISSN 2526-0456 |