Com o crescimento populacional acentuado, as sociedades que antes se definiam pelos antigos burgos e aldeias, iniciam a partir de seu centro econômico atuante e de toda vida ao redor, um processo exponencial de crescimento.
No final do século XIX, com a chegada de uma Revolução Industrial, iniciada pelo movimento ludista em 1810, as certezas que influenciavam o desenvolvimento de uma solidariedade mecânica, passaram a ser vistas como influente anomia, pois o comum era a dúvida que pairava e com ela, os receios e pavores de todos, por inúmeras mudanças que ameaçavam a vida coletiva. À época, morrer de fome, inanição e diversos outros males era algo muito real. O crescimento agrícola, como forma de movimento social das comunidades que se esgueiravam dos centros industriais em amplo estímulo, sustentava parte da população excluída das fábricas e dos seus novos mecanismos tecnológicos. Muitos outros, entretanto, perambulavam à deriva das partes centrais da cidade, transformando a paisagem com suas vestes imundas. Nesse exponencial crescimento, grandes fábricas, empresas e pequenos negócios eram fechados por não conseguirem acompanhar as novidades que surgiam, enquanto crescia o movimento contrário dos esquecidos pelo desarranjado Estado, e negados por empresários que detinham boa parte do capital da região em seus bolsos. Ao apagar as luzes de uma solidariedade que antes preservava uma consciência coletiva, e, com a manifestação de um candente individualismo reservado à solidariedade orgânica (DURKHEIM), confiar na concentração de poder nas mãos capazes de determinadas forças de controle social era a saída (FOUCAULT). Nesse interim, fazer parte de uma liga social que se desunia em prol de uma sociedade complexa que se formava pelo individualismo e pela falta de enraizamento social, significava estar de um lado ou de outro de uma mesma moeda. Enquanto alguns seguiam a sorte da meritocracia, grande parte da população, sem emprego e numa miséria que desencadeou grandes levantes sociais por toda Europa ao fim do século XIX, permaneceriam até o fim como água e vinho, distintos uns dos outros. Esses dois grandes grupos, de estabelecidos e excluídos, passaram a identificar uns nos outros seus receios e medos mais candentes, numa malograda sobrevivência num mesmo centro econômico. Ainda assim, grande parte das populações de cidades inteiras da Europa daquele final de século, pereceriam pela febre amarela, cólera morbo, tifo e varíola; doenças que afligiam os grandes portos mercantis de países influentes, germinando o medo e o pavor a todas as sociedades. Nessa luta por sobrevivência, não haveria como deixar de escapar o medo que unia todos contra as mazelas que, a princípio no ideário estabelecido, viria da pobreza e miséria oriunda das praças e lugares considerados vis pela própria indigência que exteriorizava. Hospitais, casas de loucos, albergues, prisões e todo tipo de ajuda comunitária ao esquecido e excluído, passaram, grosso modo, a ser a saída para uma segregação por “baixo dos panos”. Uma progressiva e maciça captura dos desocupados, doentes mentais, e, todo o tipo de pessoa que possa transmitir a ruindade e maldade da peste ou deflagrar os atos de sua loucura e de sua pobreza, passou a ser uma realidade social. Tanto que em 1882, no Brasil, Machado de Assis escreveria O Alienista, conto da formação da primeira instituição que visava tratar de doentes mentais numa cidade amedrontada por interesses mesquinhos de um detentor da verdade, validada por diplomas de medicina em riste, contra qualquer um que acredite ser o inimigo que deva ser estudado em sua casa de insanidade. Adepto à ideologia europeia, o maior país da América Latina não deixaria de seguir as modernidades advindas do estrangeiro, considerado primeiro mundo. Nesse ponto, a ideologia que domina e controla, estabelecida perante todos, é capaz de formular e realizar atos contra aquilo que crê ser formador das mazelas de toda uma sociedade, sem procurar as causas sociais e as raízes de tais disfunções. O medo, passa a ser o carro chefe de determinadas convicções, que agem em criação e em benefício de uma sociedade individualizada, capitalista convicta em sua busca por lucro, que tende a se enclausurar cada vez mais intramuros contra tudo e todos que possam ser uma ameaça, desde os primórdios, até hoje em dia. Iverson Kech Ferreira Advogado especializado em Direito Penal Mestre em Direito pela Uninter Pós-graduado pela Academia Brasileira de Direito Constitucional, PR, na área do Direito Penal e Direito Processual Penal Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário Internacional É pesquisador e desenvolve trabalhos acerca dos estudos envolvendo a Criminologia, com ênfase em Sociologia do Desvio, Criminologia Critica e Política Criminal Comments are closed.
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