Estamos o tempo todo envolvidos em jogos de linguagem, em ordens de discursos, representações e palpites sobre o que se imagina como verdadeiro, real, falso, imaginário. Descrever, portanto, o que se diz, quando se "fala" ou se escreve, não é tarefa tão simples, diga-se o Brasil semanal. Não vai ter golpe é um golpe de linguagem? Impeachment não é golpe, é golpe de convenção? A expressão "Bela, recatada e do lar" é uma afirmação das qualidades femininas ou um "escamoteamento" das falhas do macho? A questão entre a linguagem e o real não é um problema novo. Aliás é tão antiga quanto quase qualquer coisa que escolhamos como ponto de partida para esse esboço de reflexão. Se pontuarmos a Teologia e a Religião como start para a análise, podemos por exemplo, retomar o diálogo judaico-cristão do Genesis em que a serpente põe em cheque num dialogo, quase platônico, os interesses de Deus: " A proibição para comer o fruto da árvore não é um sinal de cuidado, mas de medo! Receio de que vocês, humanos, sejam iguais a Ele". Num salto histórico, ainda nesta vertente, podemos relembrar a velha querela teológica em torno do significado de "isto é o meu corpo" que pôs limites definidos entre as diversas compreensões em torno da eucaristia ou ceia do Senhor (Transubstanciação, Consubstanciação ou Memorial). Na Filosofia, o problema é recorrente. No Crátilo (Diálogo Platônico), por exemplo, Hermógenes é desafiado a "pensar-se" como uma fraude, já que seu nome-filho de Hermes, deveria apontar para uma vida completamente diferente da de um pé rapado, sem lenço e sem documento, duro, sem grana,como era o caso. A partir daí a escolha é farta (Para citar alguns "descronologicamente" falando): Platão, Wittgenstein, Heiddegger, Frege, Pierce, Chomsky, Foucault ou Derrida, enfim, o deleite é farto. No Direito, então, o palheiro é imenso: de volitivo a dolo eventual, de questão normativa, de princípio... se legal, imoral ou "pouco importa", enfim: O que falar quer dizer? Depende. Depende? Sim, depende. É exatamente essa a resposta do "que falar quer dizer". Perspectivas, interesses diversos, capitais em jogo e um pouco de sorte, tudo isso e mais uma pitada de segredos que, talvez o Oráculo, possa revelar. Enquanto isso, sigamos o rumo de Galileu, rumo, diga-se de passagem, um pouco torto como a torre de sua Cidade natal, buscar respostas, diligentemente, nos livros dos homens e da natureza. Quem sabe não descubramos, realmente, em torno do que a terra deva girar.... Uipirangi Franklin da Silva Câmara Doutor em Ciências da Religião Especialista em Filosofia do Direito Professor de Filosofia Geral, Filosofia do Direito e Sociologia Jurídica no curso de Direito das Faculdades OPET
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