Aspiramos por liberdade. Seja no nível que for, na escala que seja, sempre estaremos presos a algum tipo de amarra, a qual pode se demonstrar das mais variadas formas. A liberdade é algo que buscamos e continuaremos buscando incessantemente. É uma das condições existenciais: perseguir a liberdade. Ansiamos ser livres. Desde muito cedo se tem a constatação de que a liberdade plena é inalcançável, o que gera uma constante sensação de incômodo, a qual se faz presente pelo menos sempre que se reflete sobre tal questão. Assim, para que esta sensação continue sendo apenas uma sensação transitória (mas que eventualmente retorna), adotamos nossos próprios conceitos de liberdade, possibilitando assim um alcance aparente deste algo a partir de então como constructo de maneira individual. Para você, o que é ser livre? Fica o espaço aberto para o diálogo. Pensemos então naquela definição mais genérica e conhecida de liberdade. Ser livre é poder ir e vir. Liberdade é ter condição de se deslocar de um ponto a outro. Ser livre é desfrutar da possibilidade de transitar. Liberdade é poder percorrer lugares. Pensemos agora no que é tolhido de um condenado na esfera penal. Justamente a sua liberdade. Aquela liberdade em seu conceito padrão, genérico e mais aceito. Principalmente para aquele que se torna recluso, passando a conviver dentro do sistema penitenciário, a liberdade aspirada é aquela que se vislumbra de maneira mais concreta quando idealizada. O ir e vir não mais existe. O deslocar só é possível dentro do próprio cárcere. Não se transita mais para além dos muros que cercam os detidos. Os diversos lugares passam a ser possíveis somente para os outros. A liberdade, para estes, torna-se um sonho. Na literatura temos uma demonstração exemplar deste anseio pela liberdade por quem não mais desfruta dela. Trata-se de um conto ("Primavera Eterna - Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank") presente no livro “Quatro Estações”, de Stephen King. A história ganhou uma excelente adaptação para o cinema, cujo filme recebeu o nome aqui no Brasil de “Um Sonho de Liberdade”, o qual é estrelado por Tim Robbins e Morgan Freeman. Vale conferir, tanto o livro em que se insere o conto como o filme. Em “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank” (ou “Um Sonho de Liberdade”, se preferir), o leitor é presentado com uma história de esperança. Andy é um homem que foi condenado por um crime que não cometeu[1], tendo sido enviado para a prisão de Shawshank. Nos vários anos em que cumpre na prisão o que é para ser a sua pena perpétua, Andy jamais abandona o seu modo sereno e resoluto de ser, cujo caráter é notado por seus colegas de prisão. Sempre esperançoso, mesmo a contragosto dos outros presos, Andy coloca à prova o seu modo de viver diante das diversas adversidades sofridas enquanto recluso. A história é narrada por um detido que se torna grande amigo de Andy, o contrabandista da prisão, Red. Sempre que juntos, Andy demonstra todo o seu lado esperançoso, sendo muitas vezes admoestado por Red, pois estando presos, não há esperança. A liberdade se trata apenas de um sonho inalcançável. Temos assim que o anseio pela liberdade, tal qual em sua forma mais visível, é suportada de modo mais pesaroso por alguns. Para quem enquanto recluso, independentemente da situação ocasional de tal estado, a liberdade é algo que se traduz em concreto quando os grilhões se quebrantam. A chama da esperança sempre estará acesa, mesmo que mínima for a sua luz. Como imaginou Stephen King, para quem está preso o “lá fora” é um sonho de liberdade. Paulo Silas Taporosky Filho Advogado Especialista em Ciências Penais Especialista em Direito Processual Penal Especialista em Filosofia [1] Vale lembrar que a temática já foi trabalhada pelo mesmo autor em outro livro (“À Espera de um Milagre”), o qual também contou com uma abordagem nesta coluna: http://www.salacriminal.com/home/o-acusado-injustamente-a-espera-de-um-milagre Comments are closed.
|
ColunaS
All
|
|
Os artigos publicados, por colunistas e convidados, são de responsabilidade exclusiva dos autores, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento da Sala de Aula Criminal.
ISSN 2526-0456 |