Textos de estreia são realmente difíceis. Quando recebi o convite para dividir com vocês minhas experiências, meus anseios e meus receios, não pensei em outra coisa senão em aceitar. Até porque escrever em periódicos, blogs e demais meios de comunicação, é a melhor forma de expressar meus sentimentos mais particulares, bem como minhas mais profundas convicções, com pessoas que, muitas vezes, pensam no mesmo que eu, mas ainda acreditam que são os únicos a pensar de tal forma. Acredito que esta nova experiência será reconfortante, tanto para mim, quanto para vocês, leitores.
O meu objetivo aqui neste canal, em períodos quinzenais, será justamente escrever acerca de temas pertinentes à rotina do advogado criminal, uma profissão comumente mal compreendida e que, não raras vezes, nos apresenta o mais duro da existência humana. Digo a vocês que sempre tive o sonho de ser advogado criminal. Às vezes me é difícil explicar o porquê. Por que quis tornar-me um advogado criminal? Sinceramente, ainda não encontrei a resposta precisa a tal questão. Talvez, e acredito muito nisso, eu jamais tenha escolhido meu ofício. Um grande advogado, chamado Waldir Troncoso Peres, disse uma vez, numa entrevista à TV Cultura de São Paulo, em 1982, que nunca escolheu ser advogado criminal, mas foi escolhido pela advocacia. Em diversas oportunidades, também penso assim como o saudoso Dr. Waldir. Nunca consegui precisar o exato momento em que a advocacia criminal me seduziu. Porém tenho a certeza, do fundo de meu coração, que não estou no lugar errado. Tenho com plenitude em minha alma que elegi (ou fui eleito) pelo ofício correto. O mais gracioso de tudo isso é que a advocacia criminal, durante algum tempo, foi um mero sonho distante, um sonho que ainda almejava alcançar. Quando me formei, assim como muitos dos que me acompanharão neste canal, caminhei pelas agruras do “sexto ano de faculdade”. Eram diversos currículos, diversos pedidos e, com eles, diversos “nãos”. O mundo do direito penal é fechado, as portas habitualmente se encontram fechadas e, como já escrevi em outros locais, restou-me quebrar algumas janelas e tentar entrar pelos fundos. De início não deu muito certo. Por sorte, consegui uma boa oportunidade no Ministério Público Federal, iniciando minha caminhada profissional como assessor num ramo completamente distinto de minha vocação. Trabalhei por quase dois anos com Tutela Coletiva, sabem? Pois é, eu também não sabia muito. Mas foram muitas experiências peculiares. Intermediei reuniões com indígenas, participei de conselhos estaduais de refugiados, auxiliei na instrução de diversas ações civis públicas, ajudei a conseguir grandes resultados aos direitos difusos e coletivos. Hoje tenho certeza que cada uma dessas vivências, diferentes do habitual, me tornaram melhor do que era e são grandes responsáveis pelo meu desempenho como advogado criminal. Eu amava a minha equipe, amava o meu ambiente de trabalho. O problema é que odiava meu ofício. O que mais me machucava era ver pessoas me procurando, solicitando meu auxílio como advogado, quando, na verdade, eu nada podia fazer. A lei e a minha função pública me impediam de fazer alguma coisa. Eu olhava para minhas credenciais como advogado e o grande carimbo de “licenciado” com bastante pesar. Não era vergonha alguma ser assessor, mas me faltava algo. Era como ouvir a advocacia criminal me chamar e não poder responder, como se estivesse emudecido, amordaçado. Eu sentia que meu lugar não era ali, que o mundo me reservava algo mais, todavia esse “algo mais” era como o horizonte, quanto mais eu corria em direção a ele, mas longe ele ficava. No entanto, parece que o horizonte perdeu o fôlego e cansou de correr e, enfim, pude ouvir de perto a voz do seu chamamento e imergir-me no seu mais recôndito sentimento. A advocacia criminal era uma realidade, era a minha nova realidade. “Mas como assim? Você teve coragem de largar um emprego público, um salário fixo, férias e décimo terceiro num ano de crise econômica?” Essa foi a pergunta que mais ouvi após me decidir pelo pedido de exoneração. Mas, sim, tive. Talvez o melhor conselho que posso deixar, embora seja extremamente novo, tanto como profissional, quanto como ser humano, é que nada paga a possibilidade de exercer aquilo que escolhemos, nada pode retirar o brilho no olhar daquele que faz o que gosta, não interessa se a pessoa é um engraxate ou um grande empresário. Todo ofício praticado de forma sincera, honesta e com o coração merece ser valorizado – parece texto de auto-ajuda não? Mas não é. Eu escolhi, ou melhor, fui escolhido, pelo meu ofício e hoje tenho orgulho e prazer em exercê-lo diariamente. Posso dizer que meu trabalho me diverte e me divirto trabalhando. E assim, nobres amigos, iniciei a verdadeira caminhada, a verdadeira luta, a luta que escolhi como razão de meu viver, como minha causa, a advocacia criminal, a qual, em tão pouco tempo, já me trouxe tantos sentimentos bons, que farei questão de os dividir quinzenalmente com vocês. Um forte abraço a todos! Douglas Rodrigues da Silva Especialista em Direito Penal e Processo Penal Advogado Criminal Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |