Em tempos de “Baleia Azul” e “13 Reasons Why”, seria impossível não falar sobre suicídio agora em setembro, mês nacional da prevenção. Muita gente pode achar que é um tema comum, que já caiu na banalidade justamente por estar sendo mais explorado pelos meios de comunicação ou que não vale a pena ser discutido, pois não passa de frescura da sociedade contemporânea.
Entretanto, isso só demonstra o quanto o suicídio e a morte em si são questões que se procura esconder embaixo do tapete, afinal, não é necessário lidar com aquilo que se nega a existência ou a importância. Mas há muito mais além daquilo que é mostrado na mídia e é necessário sim falar a respeito, por mais incômodo que seja. Os dados assustam. Segundo o Ministério da Saúde, há cerca de 800 mil suicídios por ano no mundo, sendo que as tentativas de acabar com a própria vida somam entre 40 e 60, para cada morte efetivada; o Brasil fica em oitavo colocado no ranking da OMS, com 31.507 casos registrados entre 2012 a 2014; além disso, (FIOCRUZ, 2017). Como é possível ficar indiferente frente a isso? Está na hora de realizarmos uma reestruturação com o objetivo real de prevenção. No país, as políticas públicas são muito pouco estudadas e a implementação de programas baseados nesse tema é difícil, já que estabelece diversos desafios que devem ser vencidos ao se pensar em alguma perspectiva de controle, como “o tabu em torno do tema, o atendimento negligenciado, a abordagem sensacionalista da mídia, o acesso aos métodos para cometer suicídio e o abuso de substâncias químicas” (MACHADO, LEITE, BANDO, 2014). De acordo com Lídice (2017), é urgente o esforço conjunto entre a população e o poder público, para que, juntos, se possa mudar a realidade. Em específico no Brasil, a autora também lembra que a Comissão de Direitos Humanos (CDH), em 2016, organizou uma audiência pública com especialistas e autoridades e, já considerando uma “epidemia silenciosa” crescente entre jovens e adolescentes, propôs a discussão da necessidade de programas que objetivem a prevenção do suicídio. Mas, como trabalhar com a delicadeza da situação? Inicialmente, considerar que a situação é, de fato, delicada e não deve ser tratada com leviandade. Isso significa não tornar a ocorrência corriqueira ou não digna de atenção, mas saber que tem potencial para vir a ser (se é que já não é) um problema de saúde pública, também por poder coexistir com outras condições, como depressão ou uso de drogas, por exemplo. Em segundo lugar, deixar de lado quaisquer tipos de ideias pré-concebidas e as velhas desculpas de “na minha época, isso não existia” ou “se fosse eu, não ficava reclamando” que só fazem deixar os olhos fechados para o sofrimento alheio. Ao querer prestar uma real ajuda, não se toma como base as próprias experiências, já que estas não foram vividas por quem está sendo ajudado. É preciso se colocar no lugar do outro, pelo outro. Por último – e mais importante – falar sobre isso. Parar de pensar que isso está longe e não devemos nos envolver. Não ter medo de adentrar um terreno desconhecido e quebrar o tabu, para que, de fato, haja um entendimento e, acima de tudo, a compreensão. Através do diálogo, pode-se estabelecer a confiança e propor um vínculo seguro para prestar suporte a quem precisa. Somente assim será aberto o caminho para que, conscientemente, perceba-se a responsabilidade que todos têm sobre o que ocorre ao nosso redor e faça-se possível um auxílio adequado. E tal só virá quando nos despirmos da camada de proteção e isenção que nos deixa longe do incômodo de falar sobre a morte e passarmos a perceber, verdadeiramente perceber, o outro. Ludmila Ângela Müller Psicóloga Especialista em Psicologia Jurídica Referências FIOCRUZ. Suicídio. Disponível em: <https://agencia.fiocruz.br/suicidio>. Acesso em 03 set. 2017. LÍDICE, Roberta. Suicídio: uma questão de saúde pública e a necessidade de ações preventivas no Brasil. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/57276/suicidio-uma-questao-de-saude-publica-e-a-necessidade-de-acoes-preventivas-no-brasil>. Acesso em: 03 set. 2017. MACHADO, Marcos F. S., LEITE, Cristiane K. da S., BANDO, Daniel H. Políticas Públicas de Prevenção do Suicídio no Brasil: uma revisão sistemática. In. Revista Gestão & Políticas Públicas. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rgpp/article/view/114406> Acesso em 03 set. 2017. Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |