Escrevemos o presente texto com o intuito de demonstrarmos, de forma singela, a importância do período da graduação para a formação profissional e aprimoramento intelectual dos estudantes, salientando que esta preparação não deve se restringir às “paredes da instituição de ensino”.
A ideia é ir além, reafirmar o ditado de que “o céu é o limite”, ou não, pois há todo um universo a ser estudado, descoberto e explorado. Estudar não deve ser encarado como uma simples obrigação – o famoso “estudar para passar” – os estudos precisam ser vistos como uma oportunidade que nos é concedida para adquirir conhecimento, não só para as provas, mas para a vida. Aos calouros, salientamos a importância de uma boa interação entre a turma, mesmo que haja opiniões divergentes todos têm um objetivo em comum, aprender e se formar. Isso, por si só, é suficiente? Logo adentraremos no mérito da questão. Aos veteranos, deixamos a mensagem de que os estudos não se exaurem com o curso de graduação. A necessidade de atualização é algo que os “perseguirá” durante toda a carreira, qualquer que seja o curso que tenham feito. É imperioso enfatizar que os professores, em sala de aula, desempenham um relevante papel na vida acadêmica e, inclusive, muitos deles acabam sendo inspiração para os alunos. Todavia, os professores, oferecem aos alunos apenas o pilar de toda a construção de uma carreira e, numa singela comparação, não podemos nos abrigar contra a tempestade em uma casa que só tem o pilar, mas que não tem todo o resto da construção. Nesse contexto, leia-se construção como todo o conhecimento, dedicação e esforço adquiridos ao longo da jornada acadêmica e além dela, em âmbito interno e externo ao da instituição de ensino. É preciso sempre mais, frequentar as aulas não é o bastante e nunca será o suficiente. Mas, quais atividades extracurriculares são estas? Afinal, nenhum curso de graduação consegue esgotar todo o conteúdo necessário para a consolidação de um conhecimento, consolida apenas a base, restando ao aluno buscar a complementação e aprofundamento dos saberes e isso pode ser adquirido, por exemplo, com muita leitura, participação em eventos, grupos de pesquisa, debates, escrita, cursos de extensão e especialização. Dedicar horas do dia à leitura é o que possibilitará a construção das paredes, que sustentarão as janelas, portas e telhado do saber. Janelas que permitirão aos olhos dimensionar o mundo lá fora, portas que abrirão passagem para esse mundo e telhado que serve como um filtro, protegendo todo o conhecimento adquirido e acumulado contra qualquer ataque sorrateiro e ardiloso de informações baseadas no senso comum, superficiais, falsas e distorcidas. Participar de eventos como Simpósios e Congressos, no qual os palestrantes são os autores estudados na graduação, conhecidos apenas das páginas dos livros, é uma das formas de aprendizado mais valiosas e gratificantes, pois além de se ter a oportunidade de debater as ideias é possível esclarecer dúvidas a respeito de possíveis teorias nem sempre compreendidas na leitura, permite nutrir a admiração e o respeito construídos a partir da página de um livro. Prestar atenção aos palestrantes e anotar todas as dicas de livros, músicas e filmes que marcaram época e são referências em determinados assuntos e áreas do saber, é uma das formas mais dinâmicas de se aprender. Além disso, é necessário a todo estudante uma dose de curiosidade e outra de inconformidade, a primeira o fará buscar o conhecimento, a segunda o fará sedento dele, impulsionando-o ao aprofundamento. Afinal, como sabiamente disse Paulo Freire, considerado o patrono da educação brasileira, “não basta saber ler que 'Eva viu a uva', é preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”, por isso, é essencial a curiosidade, “na verdade, a curiosidade ingênua que, ‘desarmada’, está associada ao saber do senso comum, é a mesma curiosidade que, criticizando-se, aproximando-se de forma cada vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, se torna curiosidade epistemológica”[1]. Ou seja, é a curiosidade que possibilita o desenvolvimento da criticidade e não permite a mera recepção da informação sem que haja qualquer tipo de indagação a respeito dela, a curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos[2]. Foi com o intuito de saciar a sede de conhecimento e começar a construção/continuidade das paredes que alguns estudantes e/ou profissionais da área, decidiram organizar o I Simpósio de Ciências Criminais na cidade de Foz do Iguaçu, que trouxe para a Terra das Cataratas grandes referências do Direito, como o pai do Processo Penal no Brasil, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, Alfredo Copetti Neto, Salah Khaled Junior, Ana Elisa Bechara, Marcelo Semer, Mauricio Stegemann Dieter e Thiago Minagé. A organização de eventos por iniciativa de centros acadêmicos está diretamente ligada ao papel social que possui o movimento estudantil. Papel que, historicamente, sempre foi de suma relevância, não só no Brasil, como no mundo todo. Nesse sentido não é por acaso que o Centro Acadêmico foi denominado X de Maio, rememorando uma data histórica, a Noite das Barricadas, de 10 de maio de 1968, que reuniu cerca de 20 mil estudantes em uma madrugada violenta de confrontos de um movimento estudantil, que reivindicava mais vagas e liberdade aos estudantes, período sem precedentes que foi o Maio de 68 na França. Nacionalmente, o movimento estudantil esteve presente em tempos nebulosos e, os estudantes, sujeitos da história, tiveram papel essencial no Movimento Constitucionalista de 1932 e na resistência contra a Ditadura Militar após o Golpe de 1964. Portanto, é possível dizer que a relação entre os movimentos estudantis e a Democracia é indissociável. A realização de eventos, como foi esse Simpósio, também demonstra a possibilidade de levar aos estudantes versões muitas vezes distintas do ensino padrão que rege o sistema mercantilizado dos cursos de Direito. Demonstra que os Centros Acadêmicos podem ser catalisadores de mudanças no senso crítico universitário e, por consequência, colaborarem para a conscientização social em prol da defesa do Estado Democrático de Direito. Em tempos em que os direitos fundamentais são banalizados, flexibilizados, alijados e que a Constituição Federal é ignorada, realizar eventos e ações como essas endossa o papel salutar que possui o movimento estudantil, fortalecido na existência de Centros Acadêmicos. Faz-se necessário dizer, também, que é muito gratificante construir, de forma conjunta, eventos como este que trazem experts em criminologia e direito penal, uma vez que a lição dos mestres motiva os iniciantes e aumenta a paixão pelo conhecimento, contribuindo para uma emancipação como aprendiz, como cidadão e como indivíduo, sujeito de direito e do direito que passa a começar a construir o telhado que impermeabilizará a entrada de conhecimentos superficiais e, ao mesmo tempo, ajudará na sedimentação dos conhecimentos juridicamente embasados. Aicha de Andrade Quintero Eroud Graduanda em Direito do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu- Cesufoz. Membro Fundadora do Instituto de Estudo do Direito – IED. Estagiária da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu. Membro Associado do International Center for Criminal Studies –ICCS. Membro da Comissão Direito & Literatura do Canal Ciências Criminais. Membro da Comissão Especial de Estudos de Direito Penal Econômico do Canal Ciências Criminais. Ian Martin Vargas Advogado Mestrando em Sociedades, Cultura e Fronteiras pela Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste). Luana Aristimunho Vargas Paes Leme Advogada Pós-graduanda em Direito Penal e Processo Penal pela Fundação Assis Gurgacz (FAG). Mestranda em Políticas Públicas e Desenvolvimento pela Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila). [1] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 – (Coleção Leitura), p. 15. [2] Idem. Comments are closed.
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