Com a pergunta formulada no título, pretende-se provocar um debate em torno da confiabilidade das memórias. Na escrita do texto, baseou-se na síntese dos argumentos elencados nos textos indicados nas referências.
Inicialmente, a memória é tida como apenas um lugar no cérebro, mais precisamente no hipocampo, que armazena todos os fatos que vivenciamos em nossa história. Será? A memória é fixada em nosso hipocampo em três fases, a aquisição, a armazenagem e a evocação. A aquisição é momento em que ocorre o fato, a armazenagem é a fase em que retém essa informação e a evocação é quando se transfere a alguém esse conhecimento. Nessas fases podem ocorrer falhas, e originar as chamadas falsas memórias. Memórias que o possuidor acredita serem verdadeiras, porém, podem sofrer alguma influência e ser alteradas[1]. Em um estudo realizado por pesquisadores do tema, mostraram para quatro grupos de pessoas fotos de um acidente de trânsito. Depois de visualizarem as imagens, foram feitas perguntas de formas diferentes para cada grupo. Para o primeiro grupo foi questionado o que eles viram quando os veículos se encontraram. Para o segundo, foi perguntado o que lembravam quando os veículos toparam. Para o terceiro, o que viram quando os veículos bateram. E para o quarto, o que recordam de ver quando os veículos se estraçalharam[2]. Como resultados das perguntas feitas, o primeiro grupo indicou velocidade baixa dos veículos. O segundo indicou velocidade superior e presença de vidros quebrados. O terceiro relatou velocidades altas vidros quebrados e pouco sangue. E o quarto grupo afirmou ter velocidade muito altas, vidros quebrados, sangue, e inclusive mortos[3]. Com base na pesquisa realizada, verifica-se que apesar de todos os grupos terem visualizado a mesma cena, as respostas para os questionamentos foram de um todo diferentes, sendo o jeito de perguntar a única variação. Desta forma, constituíram-se falsas memórias, lembranças alteradas por uma influência exterior, que serão armazenadas e evocadas de forma destoante do fato presenciado. Memórias podem ser alteradas das mais variadas maneiras, podem sofrer influência interior ou exterior, como por exemplo um sonho que se mistura à memória já armazenadas em nossos cérebros ou uma conversa com amigos que dão sugestões a respeito de um fato vivido. Diante disso, questiona-se, após ter lido sobre o assunto, você confia fiel e cegamente em sua memória, considerando que temos nossas lembranças alteradas de forma recorrente? Sabrina Zimkovicz Acadêmica da sétima fase do curso de Direito da Universidade do Contestado Campus Mafra/SC Bolsista do programa UNIEDU, com projeto de pesquisa “A dignidade da morte: o Cuidado Paliativo como direito fundamental” Estagiária da Justiça Federal Subseção Judiciária de Mafra/SJSC. REFERÊNCIAS ATOÉ, Rafael; AVILA, Gustavo Noronha de. Aspectos Cognitivos da Memória e a Antecipação da Prova Testemunhal no Processo Penal. Revista Opinião Jurídica, v. 15, n. 20, pp. 255-270, 2017. IZQUIERDO, Ivan. A memória envolve modificação da forma e função das sinapses. Methodus, São Paulo, s.d.. Disponível em: <https://www.methodus.com.br/artigo/18/mecanismos-da-memoria.html>. Acesso em 29 abr. 2018. https://www.academia.edu/26705623/Como_um_monte_de_gente_inocente_%C3%A9_presa_por_mem%C3%B3rias_falsas_no_Brasil_Reportagem_na_Folha_de_S%C3%A3o_Paulo_2015_ http://justificando.cartacapital.com.br/2015/09/10/psicologia-do-testemunho-as-falsas-memorias-no-processo-penal/ https://www.conpedi.org.br/publicacoes/c178h0tg/27g49o2w/uzY9Y0Vl898z2mI0.pdf [1] IZQUIERDO, Ivan. A memória envolve modificação da forma e função das sinapses. Methodus, São Paulo, s.d.. Disponível em: <https://www.methodus.com.br/artigo/18/mecanismos-da-memoria.html>. Acesso em 29 abr. 2018. [2] ATOÉ, Rafael; AVILA, Gustavo Noronha de. Aspectos Cognitivos da Memória e a Antecipação da Prova Testemunhal no Processo Penal. Revista Opinião Jurídica, v. 15, n. 20, pp. 255-270, 2017. [3] Idem. Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |