O capitalismo ganhou espaço como um amigo traiçoeiro. Surgiu como o detentor dos prazeres e solucionador dos problemas sociais. Em seguida, passou a se alimentar dos desejos criados por suas promessas.
O desejo passou a tomar conta das mentes humanas. Viu-se nas ofertas a fórmula para a felicidade. E com o aumento populacional, criando o desejo separatista, surge o oxigênio necessário à combustão das doenças psicológicas e os preconceitos. Iguais mais próximos dos iguais e desiguais mais distantes dos desiguais. Tudo se encaixou como um par de luvas e, então, a fronteira entre os desiguais passou a ser definida pelas conquistas ofertadas pelo capitalismo. De repente tudo passou a ser definido pelo ter. O consumo visto como a oferta para o prazer e o passaporte para a inclusão social. Como um piscar de olhos, a imagem passou a ser o tesouro social. O capitalismo criou pessoas sem identidades, obcecadas pelo consumo, buscando aceitação social, senão inclusão social. Pessoas que traçam como meta de vida o destaque social. Colocam acima de qualquer objetivo fazer parte do grupo dos incluídos (os socialmente aceitos). Tornam-se amantes da fantasia. As obsessões pelos likes, por seguidores e por aplausos. A sociedade parece estar inserida em uma rede de mentiras. Torna-se limítrofe a linha entre o real e o imaginário. A aparência é o norte diário da humanidade atraída pelo consumo. Para a sociedade contemporânea, conhecida como a sociedade do consumo, já não importa quem você é, ou quem você era, mas sim e apenas quem você mostra que é. Se você não refletir a imagem imposta por essa sociedade, ultrapassará a fronteira do grupo dos excluídos. Nesse jogo, a luta diária é para permanecer no grupo dos incluídos. Sorrisos sem alegrias, relacionamentos sem amor, amizades sem sinceridade e, consequentemente, o aumento da ansiedade e do consumo dos antidepressivos. O medo da exclusão social força a distância da realidade e daqueles que não integram o grupo dos “socialmente aceitos”, criando a sociedade do egocentrismo, do individualismo, do egoísmo e do preconceito. A sociedade do consumo busca uma alegria inalcançável; impõe padrões inalcançáveis; e cria fronteiras intransponíveis. Pessoas cada vez mais endividadas, amarguradas, sozinhas e deprimidas. Para alguns, se amoldar aos padrões impostos por esta sociedade do consumo torna-se algo inimaginável e a inclusão social inalcançável, restando apenas a amargura, a ilicitude ou o suicídio. Daí a conclusão do aumento, em escala assustadora, da depressão, da criminalidade e do suicídio. Estes índices tem alcançado também os integrantes dessa sociedade que vivem diariamente buscando nela se manter inseridos. Neste mundo, chamado pelo sociológo Zygmunt Bauman de pós-moderno, feito de regras ditadas pelo consumismo, a mesma lança do preconceito que apontamos aos outros, também nos é apontada. Ferimos e somos feridos. Matamos e somos mortos. Em verdade, estamos erguendo um muro que um dia não conseguiremos transpor. A conclusão de tudo isso, é que a moda tem ditado as regras do jogo da vida e que o capitalismo criou monstros sociais. Jeffrey Chiquini Advogado criminalista e professor de direito penal. Comments are closed.
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ISSN 2526-0456 |